A demanda global por eletricidade está projetada para crescer 3,4% anualmente até 2026, impulsionada pela eletrificação dos setores residencial e de transporte, e pela expansão de centros de dados e inteligência artificial. Para atender a essa demanda, a Agência Internacional de Energia estima que mais de 73 milhões de quilômetros de linhas de energia precisem ser adicionados ou atualizados em países em desenvolvimento até 2050, um volume que excede toda a construção de linhas de energia global no século passado. O desafio é ainda maior em um cenário global de crescente preocupação com as alterações climáticas.
Isso porque o clima exerce impactos diretos e significativos sobre a geração energética, especialmente nas fontes renováveis que predominam na matriz do Brasil. Usinas hidrelétricas, solares e eólicas dependem intrinsecamente do clima, sendo afetadas pelo volume de chuvas, pela incidência solar e pelo regime de ventos. Essa falta de previsibilidade torna a gestão complexa, podendo resultar em déficits de energia ou elevação dos custos.
A estabilidade das redes de distribuição de energia elétrica também é severamente comprometida por eventos climáticos extremos. As ondas de calor, por sua vez, elevam o consumo de energia devido ao uso massivo de sistemas de resfriamento, sobrecarregando o sistema. Um exemplo dessa vulnerabilidade é o impacto das secas prolongadas na geração hidrelétrica, que exige a compensação com usinas termelétricas, de custo mais elevado.
O Sistema Interligado Nacional (SIN), que conecta todos os sistemas elétricos de geração, transmissão e distribuição do país, é a espinha dorsal da nossa matriz. Contudo, é um desafio encontrar a configuração ideal para garantir o suprimento da demanda em um país de dimensões continentais como o Brasil. Apesar da abundância de insumos para a produção de energia, os custos de implantação de novas usinas e os desafios ambientais são questões de grande complexidade.
De acordo com o Banco Mundial, o investimento anual em geração de eletricidade em países em desenvolvimento precisa mais que dobrar até 2035, de US$ 280 bilhões para US$ 630 bilhões de dólares. Atualmente, os países em desenvolvimento atraem apenas um quinto do investimento global em eletricidade, pois os investidores preferem projetos de menor risco em economias desenvolvidas.
Outro ponto a ser considerado é o equilíbrio estratégico entre o uso de energias renováveis e fontes de geração de alta disponibilidade, como as termelétricas. O planejamento para a aquisição de diferentes tipos de fontes de geração de energia elétrica permite o melhor balanço para ampliar o atendimento da demanda e a busca de melhores preços.
Para tornar os sistemas elétricos mais resilientes, soluções tecnológicas e estratégias inovadoras estão sendo desenvolvidas e aplicadas. A automação e a proteção das redes de distribuição são cruciais, assim como o uso de informações climáticas cada vez mais precisas, dados sobre eventos técnicos e características da infraestrutura para uma rápida identificação de problemas. Criar redes mais inteligentes e responsivas é um caminho já trilhado pela digitalização e tem gerado uma atuação e resolução de problemas mais rápidas.
Contudo, os desafios do setor elétrico não se limitam ao campo técnico. Existe uma preocupação crescente com o desenvolvimento de profissionais. Embora diversas instituições já desenvolvam pesquisas sobre o tema, há uma diminuição no interesse de candidatos nas áreas da Engenharia Elétrica e a migração de graduados para outros mercados. Isso resulta em menos alunos, pesquisadores e, consequentemente, em um número insuficiente de profissionais preparados e disponíveis para implementar as novas tecnologias que o setor demanda.
Para navegar nesse cenário, academia, governos e empresas precisam se unir para garantir que a matriz energética do Brasil seja sustentável. Precisam, juntos, promover o desenvolvimento de profissionais no setor, investindo na criação de tecnologias inovadoras e no treinamento para o uso eficaz daquelas já existentes.