Hoje, passando pelo Cemitério do Araçá, atendendo à curiosidade da minha neta de sete anos, comentei que as pessoas mortas são enterradas naquele lugar, ao que ela, prontamente me questionou se o corpo não iria com a Alma para o céu. Esta conversa desaguou na explicação de que a Alma é eterna e nos dá vida, precisa ser muito respeitada e honrada com nossas atitudes corretas, pois as erradas nos afastam e nos desconectam do seu verdadeiro propósito, na nossa experiência de Vida.
Claro que falei de uma forma um pouco mais didática, mas não perdi a oportunidade de esclarecer uma curiosidade reforçando a importância das pessoas, desde cedo, praticarem o Bem. Serem corretas, honestas e justas.
Esta reflexão – o certo e o errado – tem invadido meus pensamentos, ultimamente. Chamou-me a atenção três episódios. O primeiro deles foi um vídeo de uma garota, adolescente, que pulava de alegria por ter descoberto que um cartão de crédito encontrado poderia ser usado na maquininha de um quiosque. Por aproximação. Sem senha.
Não somente ela vibrava, como se houvesse recebido um presente, mas, também, esta foi a reação de outras pessoas que estavam próximas ao local. Comemoraram o saldo no cartão e a facilidade de sua utilização em compras.
Onde está a moral e a ética dessas pessoas que incentivam e aclamam a pequena adolescente? Onde se encontra o valor da Honestidade nessas pessoas?
Daí surge outro questionamento. Seria a política corrupta que transforma o político ou este já ingressa na política com a intenção de levar vantagem, corromper e ser corrompido?
A sociedade seria desonesta em seu âmago e é, esta sociedade, a responsável por eleger os seus representantes desonestos?
Não vamos aqui discorrer sobre ideologias, mais ou menos honestas, sobre sistemas, mais ou menos corruptos. O que me leva a refletir sobre esta questão, que não é uma preocupação recente, considerando que inúmeros sociólogos, filósofos, psicólogos vem sobre ela debatendo exaustivamente, se cinge ao fato do quão importante é, para a educação dos nossos filhos e netos, a formação do seu caráter, a consciência do certo e errado, honesto e desonesto, ético ou não ético, moral ou imoral.
Errar todos podem, mas persistir no erro é o desafio. Todos sabemos que, quando fazemos algo que nos afeta, ou ao nosso semelhante – seja furar uma fila, seja ficar com um troco que não lhe pertence, seja não entregar uma carteira ao transeunte que está a sua frente, seja se aproveitar da situação porque ninguém está vendo -, estamos agindo de forma errada. Pequenas coisas que são toleradas podem se transformar em grandes transgressões e mesmo em crimes. Não existe meio honesto.
Comentei acima sobre o episódio da adolescente que encontrou o cartão de crédito. Contudo, dois outros, antagônicos entre si, são exemplos claros do quanto vale a pena ou não, viver e agir com integridade, ética e honestidade. Trata-se do Caso da Gerdau em contraponto com a recente fraude das Lojas Americanas, tornando-se, esta, motivo de reportagens e discussões, afetando profundamente a vida de muitas pessoas.
O caso das Americanas nos demonstra que a desonestidade existe também nas empresas e não apenas na política, infelizmente. Da mesma forma como os detentores do poder empregam subterfúgios para vencer eleições, mediante influência econômica, com a corrupção dos agentes públicos, pressionados pelos detentores do poder, em defesa dos seus interesses, também existem empresas que fraudam e enganam, principalmente em prestações de contas corrompidas e que podem passar desapercebidas por anos, como é o caso das Americanas.
Um adendo. Ainda não restou comprovado se os sócios controladores tinham conhecimento da fraude. Seria o poder excepcional que alguns empregados da organização receberam que facilitou a fraude? Mesmo sujeitando-se, toda a documentação, a auditoria externa? Seria a pseudo segurança que a facilidade parecia oferecer que transformou os funcionários em pessoas coniventes com a desonestidade? Seria a manutenção do emprego ou a possibilidade de ganhos extras, ou seriam a vaidade humana e o narcisismo exacerbado, incentivos para continuar a atuar fraudulentamente?
Uma coisa é certa, o desonesto só pensa em si mesmo, é egoísta, egocentrado, não se importa, em nenhum momento, com a quantidade de pessoas que sua atitude poderá afetar, neste caso específico, a quantidade de acionistas que viram suas ações despencarem desastrosamente.
A ganância, a necessidade de “ter”, sempre mais e mais, a fragilidade dos valores que deveriam ser firmes e inabaláveis no comportamento das pessoas, fazem com que, seja na política, seja na vida profissional, pessoas tenham aparente sucesso e desmoronem, como cartas de baralho, se descobertas suas transgressões/crimes. Muitas vezes isto ocorre quando a proteção que julgam possuir incondicionalmente deixa de existir. A queda é inevitável. A verdade é implacável. A dignidade se perde nos escombros da essência da realidade.
Em contraponto a realidade das Lojas Americanas, temos a centenária Gerdau. Empresa que demonstra ter, no decorrer de anos – passando pela Primeira e Segunda Guerra Munidais, por tantos e tantos desafios, sobrevivendo em um país, como o Brasil, com altos e baixos na economia – uma inabalável estrutura, seja quanto a sua solidez moral, seja quanto a sua gestão, inicialmente familiar e se transformando em exemplo de Governança, honestidade e sucesso.
A empresa se destacou pela posição da família no controle e na administração da empresa centenária. Foram cinco gerações que geriram a empresa que evoluiu de uma fábrica de pregos em 1901 para o atual conglomerado siderúrgico e metalúrgico multinacional, com presença em diversos estados brasileiros e países Assim, gerida inicialmente pelo seu fundador, sua sucessão sempre primou pelo respeito mútuo existente entre os familiares, acionistas, demonstrando claramente que sempre se mantiveram atuando de forma honesta e correta.
Vale a pena ser honesto? Considerando a importância de um caráter reto, que trilhará de forma decente os caminhos disponíveis na vida – evitando não percorrer aqueles que lhes parecer antiéticos ou desonestos -, atenho-me à necessidade de consolidação dos valores morais e éticos, na formação das nossas crianças.
Somente assim será possível presenciarmos a transformação da sociedade. Nossas crianças se transformarão em homens e mulheres que saberão distinguir, com segurança, o limiar entre o certo e o errado, e agir corretamente, solidificados em princípios sólidos e universais. Sim, como falei com minha neta, temos um compromisso com nossa Alma, o de agir corretamente, de acordo com os valores Divinos que regem nosso Universo: o Amor, a Compaixão, o Respeito, a Solidariedade. E, neles, intrinsicamente, encontra-se a Honestidade.