Nos últimos dois anos, o planeta viveu uma série de quebra de recordes de temperatura. Provavelmente, 2024 será considerado o ano mais quente já registrado. Desastres climáticos estão constantemente no noticiário e evidenciam que o planeta está em um estágio de perigosa transformação.
Não é alarmismo: é a realidade com a qual nos deparamos hoje, que só pode ser contida mediante um inédito pacto global. Este é o cenário no qual entraremos em 2025, ano em que o Brasil sediará a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 30), de 10 a 21 de novembro, em Belém (PA).
Reunindo delegações da maioria das nações, a COP 30 traz a expectativa de medidas concretas para fazer frente à emergência climática. Mas, além das decisões no campo da energia, da economia, do ambiente, é preciso trazer para o centro das discussões a importância decisiva da escola para um mundo sustentável.
O papel da educação básica – de qualidade e para todos – terá uma dimensão estratégica. Se as medidas emergenciais estão muito acima do poder de transformação da escola, no longo prazo apenas a educação poderá formar cidadãos com atitudes e valores coerentes com a nova realidade ambiental.
Será no âmbito de uma cidadania consciente, crítica e informada, que o futuro deverá ser plantado. É preciso construir uma educação resiliente e estruturada para o enfrentamento das mudanças climáticas. Ao abordar o tema desde cedo, a educação básica empodera comunidades locais, dá melhor preparo para que estudantes e famílias convivam com estes tempos de profundas transformações. Conhecimentos sobre o uso sustentável dos recursos naturais e a preservação dos ecossistemas tornam-se ferramentas valiosas, especialmente para populações vulneráveis, que são as mais afetadas pelas mudanças climáticas.
Esse desafio vai muito além de uma retórica bem-intencionada: tal cidadania só se constrói sobre educação científica e tecnológica, que permitirá às atuais gerações entender a complexidade dos problemas e propor soluções inovadoras. Já se projeta uma ampliação do interesse por carreiras voltadas à ciência climática e às políticas ambientais, ou seja, todo um campo de trabalho voltado ao enfrentamento das mudanças climáticas.
Há ainda outro âmbito em que a educação é essencial: a redução das desigualdades, desafio indissociável do enfrentamento da emergência climática. A mitigação da pobreza e a construção da prosperidade também passam por sistemas educativos inclusivos, robustos, democráticos, de qualidade.
Dentro de um contexto de tal complexidade, os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) podem ser um marco de referências também para as políticas públicas educativas e para os currículos da educação básica – veja-se por exemplo os objetivos 4 (Educação de Qualidade), 13 (Ação Climática) e 15 (Vida Terrestre). Por tudo isso, a COP não pode relevar o papel da escola.
A educação básica não deve ser vista apenas como uma responsabilidade nacional ou de setores econômicos, mas sim como investimento global para enfrentar as mudanças climáticas e os desafios sociais. Inserir a educação para a sustentabilidade nas discussões da COP é essencial para criar soluções e preparar futuras gerações para os desafios do nosso tempo.