Lula, depois de sua cirurgia na cabeça, passou a usar um chapéu. O Panamá. O modelo que já entrou na cabeça de Churchill, Franklin Roosevelt e Ché Guevara. Aqui pertinho, o usuário é um ex-companheiro de Lula: Nicolás Maduro, o ditador da Venezuela. Em eventos públicos, ele utiliza o acessório para reforçar o estilo caribenho.
O Panamá é mais que um chapéu. É um logotipo. Sempre imagino meu pai com seu chapéu clássico de feltro, fabricado pela Ramenzoni, de São Paulo. Nessa época, a moda de chapéus elegia os ramenzoni como os top de linha. Em Luís Gomes, RN, meu pai tinha uma loja de tecidos e chapéus da marca ramenzoni; sua predileção era a vestimenta da cabeça, sempre de cor cinza e com a aba repuxada para baixo. Em seu cotidiano, o chapéu complementava a vestimenta do corpo: paletó e calça de linho, de cor branco-creme; camisa branca, gravata preta e suspensório.
Essa era a imagem icônica de Gaudêncio, meu pai.
Dito isto, volto ao presidente. Lula arrumou um novo logotipo. Que está dando certo. Ao sair do hospital Sírio-Libanês, onde se internara, surpreendeu a todos com o adorno. Alguém deve ter soprado aos seus ouvidos: um chapéu para esconder a cirurgia. Quem sugeriu? Teria sido Janja, com seu poder de influir, ou alguém da equipe médica, chefiada pelo médico Kalil? Escolheu o panamá, o mais bonito, com aquela fita preta realçando o logotipo ambulante. Sidônio Palmeira, que acaba de assumir o cargo de ministro na Secretaria de Comunicação Social, deve ter sido consultado: é para tirar ou não o chapéu?
Desenho traços do cenário, com apoio de supostas falas entre integrantes do governo. Lula abre a primeira reunião, com a participação de Palmeira:
– Para quem ainda não conhece, o companheiro Sidônio veio trabalhar com a gente para dar uma cara à nossa administração. E vai começar combatendo a barbárie digital das redes sociais, que usam todo tipo de mentira para denegrir nossa imagem. Vamos dar, viu, Sidônio, 72 horas para que esta tal de Meta, do Mark Zuckerberg, responda à questão: vai deixar de controlar ou não as fake news? Como um cidadão pode achar que tem condição de ferir a soberania de uma nação?
Para melhor entendimento, uma observação. Zuckerberg anunciou o fim de seu programa de checagem de fatos; doravante, os usuários é que terão a responsabilidade de incluir correções a postagens com informações falsas, nos moldes do que ocorre no X (ex-Twitter), de Elon Musk.
O advogado geral da União, Jorge Messias faz eco à voz do chefe:
“Em razão da ausência de transparência dessa empresa, nós apresentaremos uma notificação extrajudicial, e a empresa terá 72 horas para informar o governo brasileiro qual é de fato a sua política para o Brasil”.
E garantiu que não permitirá que tais redes transformem o ambiente em uma carnificina ou “barbárie digital.” A palavra barbárie, pronunciada por Lula, começara a vingar.
Para reforçar a disposição férrea do governo, Sidônio concorda e arruma um dito que (ele tinha certeza) ganharia espaço nas mídias:
– As medidas da Meta promovem um “faroeste digital.
Faroeste digital virou a expressão do dia. O que falta para reforçar a posição do Brasil? A concordância de parceiros internacionais, a França, por exemplo. O Planalto proclama:
– Lula e Macron concordaram que liberdade de expressão não significa liberdade de espalhar mentiras, preconceitos e ofensas.
Bingo!
Brasil e a Europa vão trabalhar juntos para impedir que a disseminação de ‘fake news’ coloque em risco a soberania dos países, a democracia e os direitos fundamentais de seus cidadãos. É o Brasil jogando na Copa Mundial da Cidadania.
Tudo ajustado no plano externo, Sidônio reúne a equipe, reforçada com operadores de marketing de João Campos, prefeito do Recife, para discutir a estratégia de comunicação no segundo tempo do Lula III. Sabe que terá de dançar sobre a corda bamba, balançada por Rui Costa, ex-governador da Bahia e hoje poderoso chefe da Casa Civil, e Fernando Haddad, também ministro poderoso, o fechador (às vezes, abridor) dos cofres da Fazenda. Ambos olham para a corrida de 2026.
Sidônio corre atrás do PIX, puxando Lula para dizer, nas redes sociais, que não vai taxar transferências bancárias; Haddad explica em sua rotina diária, que inclui falar em pé, apoiado na porta aberta do carro, que a receita federal vai apenas querer saber quem manda dinheiro para quem. A dissonância se estabelece. Sidônio não conseguiu a harmonia da orquestra de cordas, madeiras, metais e percussão? E aí Lula decide, com uma MP (medida provisória), garantir que o PIX, acima de R$ 5 mil, não será mais controlado pela Receita Federal. Derrota de Haddad e de Robinson Barreirinhas, o secretário da Receita. Vitória do estrepitoso deputado do PL de MG, Nicolas Ferreira, que alcançou 300 milhões de visualizações (será verdade?) nas redes sociais, com a “maldade” de que o governo, mais adiante, nos impingirá mais uma taxação.
O menestrel da harmonia, Sidônio, parece que está tonto. Como é mesmo o nome do ministro da Pesca? E o de Cidades? O que fazem mesmo? E o ministério dos Direitos Humanos e Cidadania não deveria incorporar o de Igualdade Social? Está entre a cruz e a caldeirinha, ou seja, entre as pressões do grupo da poupança e da turma da gastança, essa que tem uma renitente porta-voz, Gleisi Hoffman. Logo, logo, o maestro vai reger a Sintonia do Eco Governamental, com a orquestra do Planalto apresentando a primeira grande campanha de propaganda do governo. Conseguirá arrancar aplausos da plateia no teatro da Torre de Babel? Ou será mais um construtor a contemplar o desmoronamento de seu castelo de areia?