“Conhecereis a verdade e ela vos libertará”, segundo João 8:32, é bíblico e ressoa com profundidade em nosso âmago.
Onde está a verdade? Como saber se o que se lê, o que se ouve, o que se fala é Verdade? Parece simples, mas não é.
Necessário refletir com lógica, comparar os fatos e deduzir onde realmente ela se demonstra, onde ela se encontra, sem dependência emocional, sem ideologias, sem interesses pessoais, sem parcialidade. Difícil, mas possível.
Acredito em algo porque beneficia a mim ou a alguém próximo? Como descobrir se não estou sendo manipulado pelo discurso aparentemente convincente de um parente, amigo ou influenciador? Existe ética naquela manifestação? Existe coerência entre o discurso, a fala, e a ação?
O discurso somente será convincente se nele houver coerência, puder ser logicamente comprovado. Para tanto, exige-se clareza, lógica e reflexão por parte do indivíduo, necessidade de ser, ele, capaz de interpretar e adequar o que está sendo dito aos aspectos eventuais da vida prática.
Deparar-se com a verdade pode ser doloroso. Contudo, será restaurador quando seu coração se acalmar, mesmo que permaneça alguma mágoa a ser curada.
Falar a verdade deveria ser uma constante nas relações sociais, contudo existe uma dificuldade inerente ao homem, desde sempre. Acredito que eventual baixa estima, o medo de se manifestar contrário ao que os outros pensam, o medo de ser rejeitado, de magoar ou mesmo acreditar que o que se pensa não tem valor, faz com que as pessoas prefiram se omitir e aceitar todas as condições que se lhes impõem.
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Este é um comportamento natural na nossa sociedade: uma dificuldade generalizada de dizer a verdade, quando se deveria expressar a minha, a sua verdade, com clareza e assertividade, sempre atento a solucionar um problema. A verdade constrói, sem sombra de dúvida. Ela ajuda a criar relações fortes. Aprendendo uns com os outros, crescemos juntos.
Abordando a questão da verdade na política, este valor toma uma dimensão muito profunda.
Conhecemos, com as recentes eleições municipais em São Paulo, um fenômeno que abalou os alicerces da política, o candidato Pablo Marçal. Sem qualquer avaliação a respeito de seu caráter, personalidade e/ou estratégias de comunicação, este rapaz trouxe um benefício imenso à sociedade, que foi retirar alguns véus que cobriam o mundo da política. Foi possível conhecer quem é quem nos bastidores da política brasileira e os jogos ficaram claros como a luz do sol. A verdade se demonstrou para todos que tiveram a capacidade de refletir e analisá-la.
Neste mesmo diapasão, assisti, ontem, a um vídeo da CNN em que o jornalista Caio Copolla, afirma acreditar na vitória da candidata democrata americana, Kamala Harris. Discorre sobre as suas impressões quanto ao fato de ela ser a candidata do Sistema, comparando a situação do pleito americano com o ocorrido no nosso País, quando da última eleição presidencial.
Causa espanto e admiração, atualmente, quando nos deparamos com comentários, depoimentos, situações contrárias às que a grande mídia e o pensamento do mundo artístico, político e jurídico dominante sustentam. E isto não se circunscreve apenas ao nosso País.
Nos idos de 2007, em audiência pública na Câmara, por ocasião do debate sobre “Ética e Globalização”, o teólogo suíço Hans Küng afirmou que, apesar de a verdade ser um dos fundamentos da política, torna-se necessário uma ressalva em relação aos homens públicos em face do sigilo pessoal e profissional, esclarecendo que “ninguém é obrigado a dizer toda a verdade a todo mundo o tempo todo” (Fonte: Agência Câmara de Notícias)
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A questão primordial é que referida prerrogativa pode abrir brechas para os “mentirosos” da política, pois se esquecem do princípio ético fundamental que é “não mentir”, principalmente quando as grandes mentiras têm consequências sociais.
Sim, a verdade pode estrategicamente ser omitida, mas não deturpada em proveito próprio, ou em proveito de um grupo cuja pretensão é manter, a qualquer preço, a hegemonia do poder, mesmo em detrimento da sociedade.
O problema da mentira torna-se mais complexo atualmente, devido, entre outros fatores, à possibilidade da manipulação em massa de fatos e opiniões.
Impossível uma reforma política global se continuar inexistindo o respeito à ética e à moral, o respeito aos princípios essenciais do comportamento do político, dirigente e homem público, em qualquer dos Poderes da República.
Infelizmente deparamo-nos, no dia a dia, com discursos que se demonstram falsos em relação aos fatos, configurando verdadeira manipulação do pensamento do cidadão que já não mais suporta esta situação pois encontramo-nos, mais e mais, despertos em relação ao status quo vigente.
A Verdade surge gradativa e intensamente, desnudando a Matrix e nos mostrando todas as suas faces obscuras. Basta querer e ter olhos para ver.