Fevereiro roxo é um período dedicado à conscientização sobre doenças crônicas, incluindo a fibromialgia. Embora seja invisível a olhos externos, essa síndrome de dor crônica afeta profundamente a vida de milhões de pessoas, causando não apenas dor física, mas também impacto emocional e social.
A fibromialgia é uma síndrome caracterizada por dor musculoesquelética difusa e crônica, acompanhada de fadiga, distúrbios do sono e dificuldades cognitivas. Seu mecanismo fisiológico está relacionado à sensibilização central, uma condição em que o sistema nervoso central amplifica os sinais de dor, mesmo na ausência de um estímulo doloroso significativo.
Estudos mostram que pessoas com fibromialgia têm redução na produção de neurotransmissores como serotonina e noradrenalina, essenciais para a regulação da dor. Além disso, alteram-se também os processos do sono, o que piora a percepção dolorosa e a fadiga. Imagine um alarme de incêndio que dispara mesmo sem fogo; é assim que o sistema nervoso de uma pessoa com fibromialgia se comporta.
A condição afeta cerca de 2% da população mundial, sendo mais prevalente entre mulheres, especialmente entre 30 e 50 anos. No entanto, homens e até crianças também podem ser diagnosticados
A dor na fibromialgia ocorre devido à hiperatividade do sistema nervoso central, que amplifica os sinais dolorosos recebidos pelo corpo. Normalmente, o sistema nervoso filtra os estímulos, classificando o que é ou não uma ameaça. Em pessoas com fibromialgia, esse filtro está prejudicado. Alguns fatores que contribuem para isso incluem:
- Disfunção nos Neurotransmissores: A baixa produção de serotonina e noradrenalina diminui a capacidade do corpo de “frear” os sinais de dor. Pense nesses neurotransmissores como amortecedores que evitam que uma batida de carro seja sentida em toda sua intensidade. Sem eles, qualquer impacto é sentido de forma exagerada.
o Alterações no Sono: O sono profundo é essencial para a restauração muscular e para a regulação da dor. Pessoas com fibromialgia frequentemente apresentam distúrbios do sono caracterizados por intrusões de ondas cerebrais alfa, que estão associadas ao estado de vigília, durante o sono profundo, conhecido como sono delta. Essa interferência impede que o corpo alcance um descanso verdadeiramente restaurador, agravando os sintomas de fadiga e aumentando a sensibilidade à dor. É como tentar carregar a bateria do celular, mas a energia nunca passa de 50%. - Sensibilidade Exacerbada: Receptores de dor, chamados nociceptores, tornam-se hiperativos, fazendo com que pequenos toques ou pressões sejam dolorosos. Um aperto de mão pode parecer uma pancada em pessoas com fibromialgia.
Os 18 Pontos de Dor
Um dos critérios diagnósticos da fibromialgia é a presença de dor em 18 pontos específicos do corpo, conhecidos como tender points. Esses pontos estão localizados em regiões como o pescoço, ombros, quadris e joelhos. Quando pressionados, eles provocam dor desproporcional ao toque.
Os pontos mais comuns estão localizados nas seguintes áreas:
• Base do crânio (suboccipital);
• Bordo superior dos ombros (trapézios);
• Parte externa do quadril (grande trocanter);
• Parte interna dos joelhos
O reconhecimento desses pontos, aliado a outros sintomas, é essencial para um diagnóstico correto. Contudo, muitos especialistas também consideram os aspectos mais gerais, como fadiga e distúrbios do sono.
O Papel da Hidratação na Fibromialgia
Embora pouco discutida, a hidratação é fundamental para o manejo dos sintomas da fibromialgia. Nossas células, especialmente as musculares, contêm mais de 80% de água, que é essencial para diversas funções celulares:
- Transmissão Nervosa: A água ajuda a conduzir os impulsos elétricos entre os nervos, reduzindo a sensação de dor exagerada.
- Flexibilidade Muscular: A hidratação adequada previne tensões musculares e câimbras, frequentes em pessoas com fibromialgia.
- Eliminação de Toxinas: A água auxilia os rins a eliminarem substâncias que podem causar inflamação ou fadiga.
Dica Prática: Consuma pelo menos 30 a 35 ml de água por quilo de peso corporal diariamente. Por exemplo, uma pessoa de 60 kg deve ingerir cerca de 2 litros de água por dia. Pequenos ajustes na hidratação podem fazer uma grande diferença na sensação de bem-estar e alívio da dor.
Dicas para Gerenciar os Sintomas
Embora a fibromialgia não tenha cura, muitas estratégias podem aliviar seus sintomas e melhorar a qualidade de vida: - Atividade Física Regular
Exercícios aeróbicos de baixo impacto, como caminhada, yoga ou hidroginástica, ajudam a fortalecer os músculos e reduzem a dor. Uma caminhada de 30 minutos por dia pode ajudar a liberar endorfinas, os “analgésicos naturais” do corpo. - Sono de Qualidade
Estabeleça uma rotina de sono consistente. Evite cafeína ou telas antes de dormir e crie um ambiente tranquilo no quarto. - Terapias Complementares
A acupuntura tem mostrado resultados promissores no alívio da dor e no relaxamento muscular. Além disso, a massoterapia também pode ajudar a reduzir tensão. - Alimentação Saudável
Adote uma dieta rica em alimentos anti-inflamatórios. Evite alimentos ultraprocessados, que podem agravar o estresse oxidativo favorecendo o ciclo da dor. - Suporte Emocional
Grupos de apoio e terapia cognitivo-comportamental (TCC) ajudam a lidar com os desafios emocionais da condição. Ter uma rede de apoio também é essencial.
A fibromialgia é uma síndrome complexa que exige não apenas tratamento médico, mas também compreensão e empatia. No mês fevereiro roxo, é fundamental promover conscientização sobre os desafios enfrentados pelos pacientes e disseminar informações sobre cuidados que podem transformar vidas.
Práticas simples, como manter uma hidratação adequada, exercitar-se regularmente e buscar suporte emocional, podem melhorar significativamente a qualidade de vida de quem convive com essa condição. A dor pode ser invisível, mas a consciência e o apoio de todos podem auxiliar a encontrar caminhos de alívio e melhor qualidade de vida.