Pierre Bayard (1954) é um acadêmico, psicanalista, escritor e professor de literatura na Universidade Paris-VIII. Ele afirma que a exigência de ler e a culpa por não conseguir ler obras inteiras nos afastam dos livros.
É errado tentar impor regras para a leitura, este ato deve ser consciente e espontâneo.
Portanto, ler um livro da primeira à última linha é uma entre mil formas de leitura que existem, segundo Pierre Bayard.
Para uma pessoa culta, o mais importante não é ter lido várias obras por completo, mas saber se orientar em relação à leitura, ao contexto do livro e sobre o autor, ou seja, para poder compará-los e relacioná-los com outras obras.
Quase todo mundo defende que uma pessoa precisa ler muito, mas nem todos leem. Por quê?
A obrigação de ter que ler nos impede de “chegar” aos livros.
Exaltamos tanto os livros e o fato de ler e ter que guardar todas as informações e detalhes dos textos, que acabamos morrendo de medo das palavras e, então, não lemos.
A leitura é um ato de liberdade. Não há como impor regras a ela.
Um livro pode ser abordado de várias formas e não somente por meio de sua leitura integral.
Podemos simplesmente percorrer as páginas do livro, ou ler o título e a orelha, ou então passar os olhos por um ensaio sobre a obra sem nunca tê-la entre as mãos.
Um livro pode entrar na nossa vida quando ouvimos falar sobre ele.
Podemos começar a ler um livro pelas últimas páginas e continuar ou não a ler. Não sei por que motivo não agir assim?
Tudo isso é uma forma de ler.
Não devemos sentir culpa ou vergonha por não ter lido as grandes obras. É muito melhor ser sincero com as pessoas e falar que não leu os principais clássicos, mas, lamentavelmente, as pessoas mentem muito.
Então, instaura-se uma mentira coletiva da cultura sem lacunas baseada numa angústia pelas obras não lidas.
Devemos ler livremente, sem trauma, com espontaneidade e vontade.
Mas tudo na vida deveria ser assim com liberdade!
Assim sendo, podemos falar sobre livros que não lemos, pois num debate a discussão acaba, geralmente, sobre nossas noções de cultura e literatura. E na verdade, a boa discussão está em nunca conhecer tudo.
A “exigência” de ler incentiva a preguiça! Precisamos é tirar o livro do pedestal do sagrado em que ele está, pois isso afasta a leitura.
Quando terminamos um livro entramos em um movimento direto rumo ao esquecimento. Vamos esquecendo as passagens, as palavras, e acabamos transformando a obra lida em algo completamente diferente. Há uma desleitura, ou seja, um movimento pessoal rumo ao esquecimento.
Nunca uma pessoa vai ter dentro de si o mesmo livro que outra, pois cada um adiciona coisas suas às obras que leu. Há diferenças culturais que fazem com que um livro possa ter infinitas leituras.
São inúmeras as pesquisas que comprovam que ler aumenta as conexões neurais, fazendo com que o cérebro funcione melhor.
Além disso, uma pesquisa da Universidade Emory, dos EUA, descobriram que ler afeta nosso cérebro como se realmente tivéssemos vivenciando os eventos que estamos lendo.
Outro estudo dos EUA também descobriu que a redução do funcionamento do cérebro, na velhice, pode ser reduzida em cerca de 30% se a pessoa mantiver hábitos de leitura, além de proteger contra doenças como o mal de Alzheimer.
Ler também faz com que a receptividade à linguagem aumente o cérebro – o que facilita na hora de aprender um idioma novo, por exemplo.
O hábito da leitura deve ser estimulado desde a infância para que o indivíduo aprenda desde pequeno que ler é algo importante e acima de tudo , prazeroso, deve ser exercido com liberdade e sem obrigação para que possa florescer o prazer em relação à leitura, como também, desenvolver a imaginação.
“A leitura é uma fonte inesgotável de prazer mas por incrível que pareça, a quase totalidade, não sente esta sede.”
Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987), poeta, farmacêutico, contista e cronista brasileiro.