Nós nos concebemos como seres livres, pois somos dotados de escolhas.
Ou seja, tomamos decisões todo dia. O que quero no café da manhã? Que roupa devo trajar hoje? Enfim, terei uma conversa com aquele colega de trabalho que venho protelando? E assim por diante.
Para Carl Gustav Jung (1875-1961), sem liberdade não pode haver moralidade.
Ou melhor, nós louvamos pessoas por suas boas ações e as repreendemos pelas más ações. Porém, louvor e repreensão só fazem sentido se as pessoas tiverem escolhas reais.
Enfim, temos que acreditar no livre-arbítrio, não resta outra opção.
Na verdade, todos naturalmente acreditamos que somos livres. Pensamos espontaneamente que o futuro está aberto à nossa vontade. Essa é uma crença fundamental na maioria das visões de mundo.
Há poucas décadas, a psicologia era dominada por acadêmicos que vieram a acreditar que o livre-arbítrio é uma ilusão.
Os psicólogos falam na hereditariedade e meio ambiente como responsáveis por tudo o que você faz.
Nesse caso, a crença natural no livre-arbítrio não passa de uma monstruosa falsidade.
Então, seria o livre-arbítrio uma das nossas maiores ilusões?
Um dos grandes psicólogos e filósofos do século XIX, William James, como vários grandes pensadores antes dele, acreditava firmemente no livre-arbítrio.
Ele estava convencido de que podemos modificar nossas vidas mudando nossos pensamentos.
Nossa crença no livre-arbítrio é importante, ou seja, ela é poderosa porque ela nos faz acreditar que podemos superar obstáculos e, criativamente, deixar nossa marca neste mundo.
E, portanto, para existir criatividade ou responsabilidade é necessário haver liberdade.
Na realidade, existe sempre algo além de nós, isto é, medo, desejo, esperança, ainda nos impelem para o futuro.
Mas será que podemos prever o futuro literalmente?
É fato que se nós acreditamos num futuro ainda por vir, isso pode criar um desafio à nossa crença no livre-arbítrio.
E a presciência divina seria então um sério desafio à liberdade humana?
Se o futuro já está, de algum modo, metafisicamente “ali” para ser conhecido, ele está fixado, não importa o que queiramos ou tentemos fazer, e não temos liberdade para torná-lo diferente.
Existe resposta para esse desafio?
Shakespeare dizia que “os homens em certos momentos são mestres de seus destinos”, e em outras situações, o homem é vassalo de seu destino, como disse o poeta e dramaturgo inglês nascido em 1809 e falecido em 1892, Alfred Tennyson.
De acordo com os deterministas, somos determinados em todos os aspectos a fazermos tudo que chegamos a fazer.
Ou seja, a ciência nos condena a um estado robótico, apesar de nossos sentimentos subjetivos contrários.
Enfim, se existe um Deus perfeito com conhecimento perfeito do futuro, pelo raciocínio que acabamos de ver, absolutamente generalizado, você não é livre no tocante a nenhuma ação que realiza. Isso significa que você não tem nenhum livre-arbítrio.
Por outro lado, somos seres humanos responsáveis, não títeres. Se tivermos liberdade de escolha, o livre-arbítrio existe!
É condição fundamental para pensar sobre o “livre-arbítrio” e compreender a diferença entre presciência e predestinação.
Quem acredita que existe um Deus que predetermina tudo que jamais ocorrerá tem realmente problema em abrir espaço na sua visão de mundo para o livre-arbítrio.
Se Deus prevê A, então A acontecerá porque Deus o previu.
Porém, Se Deus predestina A, então acontece porque Deus o predestinou.
A predestinação é uma noção causal. É um conceito de Deus que faz com que as coisas aconteçam. Mas, a presciência é, em princípio, diferente.
A presciência pode ser o conhecimento de ações livremente causadas por alguém diferente de Deus, a saber, por nós.
E como disse Santo Agostinho (354-430): “Ora, contra as sacrílegas e ímpias ousadias da razão, afirmamos que Deus sabe todas as coisas antes que venham a acontecer e que realizamos por nosso livre-arbítrio tudo que sabemos e sentimos ser feito por nós somente porque o desejamos”.
Em filosofia, os problemas aparecem com facilidade, mas temos que suar para ver a sua solução.
Não deveríamos prever o futuro, mas possibilitá-lo, ou seja, oferecer os elementos necessários para que os objetivos almejados sejam concretizados.
Mas ao traçarmos as metas, estamos excluindo o papel da liberdade?
Seria o futuro completamente imprevisível?
Seria essa uma previsão correta?
Enfim, os deterministas científicos negam que os seres humanos cheguem a ser realmente livres.
Há quem diga que somos vítimas de um destino implacável, somos os tolos, como disse Joseph Conrad (1857-1924).
Para os indeterministas, somos realmente livres. Eles acreditam em ações livres não causadas.
Os libertarianistas acreditam que nossa liberdade é tão óbvia que nenhum argumento ardiloso científico ou filosófico contrário deve merecer confiança.
Ou melhor, eles acreditam que somos de fato livres.
Não podemos igualar a liberdade à aleatoriedade.
Ou seja, liberdade implica em responsabilidade, isto é, nada deveria ser por acaso em nossas condutas. Seres humanos de um mundo melhor desenvolvem a capacidade de escolhas conscientes e com bom senso, ou seja, baseadas em princípios e ética.
Devemos alcançar o destino e não é algo para ser aguardado!
Afinal, será que nada é por acaso?
Depende de como você usa a liberdade, será o estilo de vida que terá.
Somente quem aproveita melhor sua liberdade vive a vida que nos cabe viver em sua plenitude.
Essa sabedoria pressupõe que somos, de fato, metafisicamente livres. Somos mesmo?
Há uma teoria sobre o livre-arbítrio que aceita o pressuposto da ciência de que, pelo menos em uma escala macrocósmica, as coisas não acontecem sem causa.
Em suma, não somos prisioneiros do destino, mas apenas prisioneiros das próprias mentes, como sabiamente disse Franklin D. Roosevelt.
“A qualidade de uma vida é determinada por suas atividades.”
Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.)