Muito tem se falado sobre a inflação no preço do ovo, um dos
principais alimentos consumidos pela população. Cada ovo de
galinha possui 6g de proteína e é rico em vitamina B12, sendo
essencial para a saúde humana. Agora, o debate em torno do ovo
surge como se fosse a última pá de cal em um país moribundo e em
completa crise fiscal. Nada mais falso. Vejamos.
Qualquer pessoa que for agora ao supermercado em São Paulo,
mesmo aqueles que ostentam grifes, encontrará a “dúzia de dez” do
ovo branco extra entre 13 e 16 reais. Como existem vários tipos de
ovos, os preços oscilam, inclusive para baixo. Essa faixa de preço é
exatamente a mesma de dezembro do ano passado. Epa…então, é
tudo mentira o que tem se falado na imprensa sobre o aumento no
preço do ovo? A inflação não existe?
Não é bem assim. A inflação existe e ela é mais alta dependendo
de alguns fatores como região, tipo de produção, quantidade, clima,
logística, demanda etc. Não existe necessariamente um “pilantra”
atuando na surdina para prejudicar a popularidade do Lula. Isso é
um recurso retórico bem ao estilo do presidente.
Na prática, são muitas as variáveis que impactam no preço do ovo.
Um exemplo é a gripe viária que afeta os Estados Unidos há três
anos e tem sacrificado boa parte do rebanho local, exigindo a
importação de outros países para atender o consumo interno. Já
aqui no país, o clima seco reduz o apetite das galinhas enquanto o
aumento de renda da população gera demanda maior pelo produto.
Além disso, os preços dos ovos costumam aumentar na época que
antecede a Quaresma e na volta às aulas. Em 2024, os preços das
embalagens e do milho e da soja, principais insumos da atividade,
também aumentaram, reduzindo as margens de lucro. Pense como
um produtor e você terá uma boa resposta para a oscilação sazonal
dos preços.
Mesmo com esses fatores, o mercado brasileiro segue abastecido e
em condições de oferecer preços dentro de uma normalidade
inflacionária que estão muito distantes da órbita planetária. Em
2024, o Brasil aumentou em mais de 8% a sua produção que já
havia chegado a 52,4 bilhões de ovos no ano anterior. Nosso país
ocupa a quinta posição mundial no setor. O consumo anual por
habitante também é expressivo e vem crescendo ano a ano,
passando de 82 unidades, em 1997, para 242, em 2023.
Por isso, a questão é um pouco mais complexa e, sem dúvida,
exige a atenção do governo no que diz respeito ao controle de
preço sem repetir erros do passado. Os estoques reguladores,
prática que quase foi extinta na gestão anterior para atender
exclusivamente o setor privado, são estratégicos para todos os
produtos de primeira necessidade.
Ter uma política permanente de segurança alimentar é fundamental
para superar as desigualdades sociais. Investir em tecnologia para
aumentar a produção sustentável é ainda mais importante, desde
que beneficie igualmente a agricultura familiar, base do nosso prato
de cada dia, com ovo ou sem ovo.
Então, a que se deve, afinal, toda a polêmica em torno do preço do
ovo? Para a mídia é um roteiro de estagiário de jornalismo. O
repórter entra no supermercado ou vai na feira com a pergunta
pronta e a resposta mais manjada ainda: “O que a senhora está
achando do preço do ovo?”. A resposta, por óbvio, é: “Um horror,
tudo muito caro”. Em nenhum momento, percebam, existe um
gráfico comparativo com os preços de um ano atrás e os preços
atuais. Não existe sequer um close no preço do tipo de ovo mais
consumido pela população brasileira, cuja tendência é ter preços
mais estáveis. Sem falar na mera citação dos fatores externos que
fazem o produtor optar por aumentar a exportação.
A crise do ovo, pelo menos essa, é totalmente fabricada para, de
alguma forma, induzir os consumidores ao esporte preferido dos
editores da primeira página dos jornalões, ou seja, criar manchetes
negativas que criem uma onda de insatisfação social com claros
reflexos na popularidade do governo.
É uma situação complexa onde as autoridades federais precisam e
devem intervir em diferentes frentes começando pelos estoques
reguladores dos alimentos de primeira necessidade. O ovo não está
nessa situação porque não existem espaços de armazenamento
especiais de refrigeração em quantidade suficiente no país e, por
isso, tem mais a ver com o apoio à logística de produção e
transporte.
Também existe a necessidade urgente de se fazer a mãe de todas
as batalhas no mundo atual que é a comunicação. O discurso da
inflação pega como rastilho de pólvora e provoca uma crescente
impopularidade. Por isso, não adianta muito só encontrar o
“pilantra” da história. É preciso saber contar a fábula da galinha dos
ovos de ouro.