Dirigir na autoestrada me confere uma sensação profunda de liberdade.
Sempre que me encontro nesta situação, sinto uma força inabalável e uma
alegria que interpreto como uma necessidade que tenho de me sentir livre!
Em sentido oposto, ontem, indo a um evento na Avenida Nações Unidas, entre
16/17 horas, fiquei um tempo interminável na Avenida 9 de Julho pois os
semáforos estavam quebrados e o “wase” me jogou em uma prisão
indesejada e agoniante. A única opção, naquele momento, foi relaxar e me
entregar àquela experiência, aliás, o maior desafio que os paulistanos ou os
aqui residentes enfrentam no dia a dia.
Nada mais angustiante do que ter horário agendado, necessidade de chegar
e não conseguir sair do lugar. O interessante que havia muito tempo que eu
não experimentava agendar um horário e não saber quando conseguiria
chegar. Isto foi na era pré-wase, mas atualmente o trânsito –talvez pela época
pré-natalina – tem se tornado imprevisível.
Esta experiência de ontem – ficar paralisado no trânsito – me fez refletir e
concluir sobre o que eu tenho de muito forte dentro de mim, um dos maiores
valores do ser humano: a liberdade. Poder me locomover ou ficar imóvel, falar,
me expressar, ou me calar, por opção. Tomar decisões.
Sinto, relembrando Sartre que a liberdade é a condição de vida do ser
humano. Ele afirma que o princípio do homem é ser livre, sendo obrigado a
realizar escolhas e construir sua própria existência.
Infelizmente este valor, o da Liberdade, encontra-se debilitado e obstruído,
como o trânsito desta cidade. Sentimo-nos como se estivéssemos presos, sem
possibilidade de sair do lugar, sem liberdade de expressar os nossos
pensamentos, ideias, convicções, pois tudo tem sido gradativamente censurado.
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Se não bastasse, muitas vezes perdemos nossa voz nas mídias sociais ou somos
trancafiados como se perigosos bandidos fossemos.
Esta insegurança é muito maléfica. Ela obstrui talentos, inspirações, intuições.
Transforma potenciais lideranças em homens/mulheres submissos. Impede
que inovações transformadoras possam ser desenvolvidas. Como tão bem
afirma Nietzche, a liberdade é fundada na essência humana, de onde se
extrai seu potencial artístico e criativo, seja ele belo ou trágico.
A ausência de liberdade contribui para que as pessoas sejam medíocres, sem
desenvolver vontade própria, inibindo, inclusive, o despertar de consciências.
Como afirmava Aristóteles, a liberdade está baseada na possibilidade de
realizar escolhas orientadas pela vontade, pois cabe à pessoa a capacidade
de decidir por si mesmo sobre um determinado agir ou omitir.
A liberdade empodera as pessoas.
Fala-se muito do empoderamento feminino, mas ele só é possível se o
comportamento estiver alicerçado na segurança que a liberdade confere aos
seus atos.
A liberdade consciente é inestimável. Ela somente estará presente com a
possibilidade da pessoa se expressar com conhecimento, competência,
humildade e respeito ao outro e ao meio.
Liberdade é nossa própria razão de viver.
Ela é a senhora de todos os valores, inclusive do amor. Seja em relação ao
amor romântico, seja em relação ao amor universal, incondicional, o ser
humano precisa ser livre, interna ou externamente, para amar.
Este, o amor, somente pode ser assumido como uma forma concreta de
liberdade pois exige-se do ser humano decidir sobre sua evolução e a abertura
de sua consciência. Decidir sobre a liberdade que quer ter. Inclusive, de
pensamento.
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Quando a liberdade poderá ser considerada uma realidade? E não uma
utopia?