A linda paisagem desta foto é de um país da América Central que tem tudo a ver com meu interesse pelo tema. Algo que vem norteando minha vida, no trabalho e nos compromissos sociais e familiares.
Decidi escrever esta reflexão, hoje, quarta-feira, logo após um almoço em que tive o enorme prazer de reencontrar a amiga jornalista Lourdes Sola, companheira em bons tempos do “Estadão”, atualmente morando em Lille, na França. Conversamos por mais de três horas, tiramos foto e isso vai ser relatado num outro texto, na próxima semana.
Desta vez, o que interessa é o respeito mútuo à obrigação de ser pontual. Lourdes e eu levamos a sério, cumprimos: chegamos pontualmente, às 12 horas, no Restaurante Altruísta, nos Jardins, onde atacamos o ótimo macarrão com polvo e um vinho tinto da região de Lisboa.
No livro “Vida de Jornalista”, lançado há um ano, em que focalizo meus 60 anos de carreira na imprensa, na universidade e na literatura, a maioria dos 35 capítulos menciona, de alguma forma, a necessidade de se respeitar horários para o trabalho, para as viagens, para o lazer, para a vida em família. É uma questão de costume.
Faz 55 anos que passei a levar a pontualidade como questão de honra ou de sobrevivência.
Foi em janeiro 1969, numa viagem de férias por 11 países da América Latina, após um ano de intenso trabalho no “Jornal da Tarde”. Consegui perceber as características e os contrastes do Panamá, Costa Rica, Nicarágua, Honduras, El Salvador e Guatemala, na América Central, de florestas, vulcões, terremotos e histórias.
El Salvador é pequeno, mas muito interessante. Na capital, San Salvador, me hospedei num hotel simples, por duas noites. No primeiro dia, assisti a um jogo do Campeonato Salvadorenho de Futebol, entre os clubes Marte e Águila, no Estádio Flor Blanca.
O resultado do jogo, 1 a 1, é secundário: interessa o fato de ter começado naquele estádio, alguns meses depois, a “Guerra do Futebol”, entre El Salvador e Honduras. Era uma partida entre as seleções dos dois países, pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 1970. Houve tumulto entre as torcidas, os choques foram para as ruas e chegaram aos chefes das forças armadas dos dois vizinhos, eternos rivais.
A guerra terminou empatada, após a morte de muita gente. Os dois times foram para um jogo extra, em campo neutro, na Cidade do México, e a vaga ficou com El Salvador.
No ano seguinte, a seleção salvadorenha honrou o lema do Barão Pierre de Coubertin, patrono das Olimpíadas da Era Moderna, “No esporte, o que vale é competir”. Competiu, perdeu os três jogos, levou nove gols, não marcou nenhum, e terminou em último lugar, com três derrotas, entre os 16 países do Mundial conquistado pelo Brasil, de Pelé.
E o que El Salvador tem a ver com a valorização da pontualidade? No meu caso, tudo!
No dia em que eu pegaria o avião em San Salvador para seguir para a Cidade da Guatemala, nova escala das férias, aceitei a sugestão da dona do hotel: “Vá conhecer o Parque de Los Chorros, de piscinas naturais, lindo lugar, onde o presidente dos Estados Unidos se reuniu recentemente com os presidentes dos países da América Central. É só pegar o ônibus para a cidade de Santana, ali na esquina”.
Lá fui eu. Deixei a pequena bagagem no hotel e subi ao “ônibus” – na verdade, um caminhão, em cuja carroceria estavam instalados bancos de madeira. Antes da partida, ainda pude comprar o jornal “El Mundo”, cuja manchete me alertou: “Buses en huelga” (Ônibus em greve).
O fato é que o caminhão-ônibus rodou uns 25 quilômetros pela rodovia e deu uma parada no Parque Los Chorros, que era (e é) mesmo muito bonito. Hoje, por meio de pesquisa no Google, consegui essa foto atual do parque para ilustrar meu texto.
Fiquei em Los Chorros por quase duas horas. Olhei para o relógio e vi que restava tempo, com folga, para terminar o passeio, pegar a bagagem no hotel e seguir para o aeroporto. Ao ir para a beira da estrada, porém, verifiquei que seria inútil esperar o tal ônibus. Os motoristas estavam mesmo em greve!
Aos 25 anos de idade, não seria problema encarar a estrada e caminhar, rumo a San Salvador. Foi o que fiz. Caminhei, firme, pelo acostamento. Percorri 20 quilômetros até a cidade de Santa Tecla, onde, cansado, consegui um táxi que me levou até o hotel. Peguei minha bagagem e usei o mesmo táxi para chegar ao aeroporto. Pontualmente, embarquei para a Guatemala. Vitória da garra e da sorte (ou da ajuda de Deus). Lição aprendida.
Trato de ser pontual, sempre, como no almoço com a Lourdes Sola nesta quarta-feira. São algumas décadas de hábito sadio. Juro que não chega a ser neurose. É apenas disciplina, apenas respeito.
Não nego que me irrito com quem atrasa nos compromissos e sempre põe a culpa no trânsito de São Paulo. Era o caso de uma colega minha na PUC-SP, cujo nome omito, por questão de ética (mas quem viveu aquele ambiente sabe quem é). Ela atrasava raramente? Não. Atrasava sempre! Um dia, quando a referida pessoa atrasou 40 minutos para chegar a uma combinada aula conjunta (que acabou sendo uma aula solo), fiz uma pergunta lógica: “Por que você não sai mais cedo de casa???” Não houve resposta. Perdi a esperança.
E vamos em frente. Admito que o Brasil não é uma Suíça ou uma Inglaterra, mas tem muita gente que, como eu, tenta ser pontual.
Ainda bem.
Vamos conversar um pouco sobre a importância da pontualidade? Por Luiz Carlos Ramos
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