Talvez nunca tenhamos vivido tamanha polarização no país. Debates que antes se limitavam ao futebol e outros temas amenos em botecos e reuniões familiares agora giram em torno da política. E dois nomes dominam essas conversas: Lula e Bolsonaro.
Eles são os dois maiores líderes políticos do país. Enquanto lulistas e bolsonaristas se repelem mutuamente, ambos dominam a arte de emocionar seus admiradores. Prova disso são os cerca de 60 milhões de votos que cada um conquistou nas últimas eleições, reflexo direto de sua habilidade em falar em público.
Assim como todos os oradores, os dois possuem defeitos e qualidades oratórias. O objetivo deste texto é analisar as virtudes e falhas dos maiores adversários políticos da atualidade. Se possível, avalie cada uma das ponderações sem paixão ideológica, pois só assim será possível compreender o que os leva a conquistar milhões de admiradores.
Lula
Lula já não é o grande orador que foi no passado. Especialmente ao improvisar, comete gafes que frequentemente geram desconforto e precisam ser contornadas por seus assessores, inclusive para evitar conflitos diplomáticos. Suas falhas, para desespero dos apoiadores, fazem a alegria da oposição.
A atuação desastrada levou sua equipe a preparar discursos para leitura, minimizando o risco de declarações inoportunas. Ainda assim, quem o conhece sabe o quanto é difícil fazê-lo seguir roteiros à risca.
No início de sua atuação política, após sucessivas derrotas nas urnas, Lula percebeu que precisava abandonar o tom radical e adotar mensagens conciliadoras, conquistando parte do eleitorado resistente.
Empolgado pela fama, Lula voltou agora a radicalizar como nos primeiros tempos. Cercado por apoiadores que endossam suas teses sem reservas, defende pautas polêmicas que desagradam boa parte do eleitorado. Prega o controle da imprensa, defende mais estatização e apoia decisões globais para questões internas.
Era considerado um orador muito hábil. Parecia ler os anseios do povo e traduzir isso em mensagens que tocavam até os mais indiferentes. Porém, nos últimos anos, esse poder se esvaiu. Seus discursos são repetitivos, sem propostas claras, e parecem atingir apenas os apaixonados de sempre.
Bolsonaro
A comunicação de Bolsonaro é seu ponto mais criticado. Mesmo assim, foi decisiva para sua vitória em 2018, quando enfrentou adversidades como o desconhecimento nacional e a falta de apoio partidário. Sua abordagem direta e, por vezes, controversa, cativou eleitores que o viam como autêntico e ‘fora do sistema’.
Essa abordagem, entretanto, foi um dos obstáculos para sua reeleição. No final da campanha, buscou se desculpar com eleitoras por falas que consideravam ofensivas, mas já era tarde para mudar percepções.
Bolsonaro conseguiu atenuar uma de suas maiores fragilidades: o desconhecimento em economia. Hoje, já aborda temas como juros, inflação e PIB, mesmo sem contar com o ‘Posto Ipiranga’, Paulo Guedes, que era seu principal porta-voz econômico.
Assim como Lula, Bolsonaro também se mostrou resiliente. Apesar de inelegível e cercado de acusações, mantém uma base fiel de eleitores e aposta nesse apoio para uma eventual reviravolta no cenário político.
As chances de cada um
Independentemente das críticas, é inegável que Lula e Bolsonaro mantêm um poder de mobilização incomparável. São os únicos capazes de arrastar multidões e intimidar o adversário com sua presença. Para 2026, o que está em jogo é mais do que o carisma de cada um: será a capacidade de ajustar o discurso às demandas de um Brasil dividido.
Lula precisará deixar de lado pautas que desagradam grande parte do eleitorado se quiser ampliar seu alcance. Terá de mobilizar esforços também para acertar os rumos da economia do país, e para já, pois a situação fragilizada das nossas contas começa a desgostar até quem esteve sempre ao seu lado.
Bolsonaro, por outro lado, deverá concentrar esforços em neutralizar as acusações que pesam contra ele e reavaliar sua estratégia de comunicação. O futuro político de ambos está atrelado à habilidade de compreender e dialogar com as expectativas de um país em constante mudança e totalmente polarizado.
Os dois já demonstraram habilidade em superar adversidades e desafios. Nada está definido, e muitas incógnitas ainda compõem essa equação. Em dois anos, o cenário pode se transformar por completo, desfazendo certezas e mudando o que hoje parece imutável.