No cenário dinâmico da publicidade, onde criatividade e adaptação são essenciais, persiste um desafio estrutural: o etarismo. A discriminação etária não apenas marginaliza profissionais experientes, mas priva o mercado de um ativo estratégico — o conhecimento acumulado em décadas de carreira.
Segundo a pesquisa Maturi/EY (2023), 80% das empresas brasileiras não possuem políticas voltadas para a contratação de profissionais acima de 50 anos. No setor publicitário, essa lacuna é especialmente preocupante, refletindo um mercado que, muitas vezes, prioriza a renovação de equipes em detrimento da experiência sênior, reforçando desafios relacionados à inclusão e diversidade etária.
O custo estratégico do preconceito
A ideia de que profissionais maduros são menos adaptáveis à transformação digital é um mito perigoso. Muitos colaboradores acima de 50 anos demonstram um forte compromisso com a atualização profissional, investindo em cursos e treinamentos para se manterem alinhados às demandas das novas tecnologias, desafiando estereótipos sobre sua capacidade de inovação e aprendizado.
Além disso, empresas com equipes diversificadas, incluindo diversidade etária, têm 35% mais chances de superar seus concorrentes em resultados financeiros, conforme estudo da McKinsey & Company. A explicação é clara: enquanto jovens talentos dominam plataformas digitais, profissionais seniores aportam habilidades como gestão de crises, construção de relacionamentos de longo prazo com clientes e visão estratégica — uma combinação poderosa para enfrentar os desafios de um mercado cada vez mais competitivo.
A experiência como vantagem competitiva
Na Átina Consulting, acompanhamos casos concretos que comprovam esse valor. Um exemplo recente: após contratar um diretor de contas sênior (55 anos), uma agência de São Paulo recuperou dois clientes históricos que haviam migrado para concorrentes, graças à sua habilidade em negociar sob pressão e antecipar riscos. Em outro caso, uma marca de luxo aumentou em 22% o engajamento em campanhas após realinhar sua estratégia com insights de uma profissional de 58 anos, que identificou falhas na segmentação etária do público-alvo.
Como transformar o discurso em ação
Combater o etarismo exige medidas práticas, como a revisão de algoritmos de recrutamento, já que sistemas de triagem automática frequentemente classificam currículos com mais de 15 anos de experiência como “super qualificados”, excluindo talentos seniores. Também é fundamental implementar programas de mentoria intergeracional, integrando jovens e seniores em projetos colaborativos, como fazem empresas referência no setor. Além disso, adotar métricas de desempenho baseadas em resultados permite reconhecer a eficiência dos profissionais maduros, que muitas vezes contribuem para a redução de custos operacionais.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 2030, 1 em cada 6 pessoas no mundo terá 60 anos ou mais, elevando o número de pessoas nessa faixa etária de 1 bilhão em 2020 para 1,4 bilhão. Ignorar esse público — e os profissionais que o compreendem — é um erro mercadológico. A publicidade, que se propõe a dialogar com a sociedade, precisa refletir sua pluralidade etária.
Líderes do setor: a exclusão de seniores não é apenas uma injustiça — é uma perda financeira mensurável. O futuro exigirá não apenas criatividade, mas a sabedoria de quem já enfrentou (e superou) reviravoltas históricas. A hora de agir é agora.