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Incerteza, otimismo e pessimismo – por Marcel Solimeo

Ao completar 62 anos na Associação Comercial de São Paulo, onde entrei no Instituto de Economia “Gastão Vidigal”, do qual sou Superintendente há 60, fui perguntado sobre a situação atual do país e, principalmente, sobre as perspectivas para os empresários.

Apesar do posto privilegiado de observação, confesso que tenho dúvidas sobre os desdobramentos da economia nos próximos meses e, especialmente, em para 2026.

Isto porque o cenário mundial está sofrendo uma reconfiguração geopolítica e das correntes de comércio   ainda em curso, e sem configuração final definida, e que terá impacto em todos os países.

No Brasil, além do problema do “tarifaço”, cujo resultado ainda não está totalmente dimensionado e nem superado, existem ainda ameaças de novas medidas. De ouro lado o governo vem adotando posições dúbias sobre as mudanças externas, que dificultam para as empresas a busca de novos mercados em função da falta de um posicionamento claro em relação aos novos blocos econômicos que se delineiam.

Além disso, a situação fiscal é muito frágil, porque apesar da constante elevação da carga tributária, o endividamento público continua subindo, atingindo cerca de 80% do PÌB. Novos aumentos de impostos se acham em discussão no Congresso, mas os gastos continuam crescendo sem controle.

Agrava esse cenário o avanço da reforma tributária, cuja complexidade, especialmente durante os oito anos da transição com a convivência dos dois sistemas, poderá desorganizar a economia, atingindo drasticamente as empresas menores, especialmente as do setor Serviços, que será muito tributado,                     

Se a situação fiscal já é negativa, a RT prevê a criação de quatro Fundos, que deverão ser bancados pela União, sendo que o primeiro deles, que totaliza 160 bilhões, deverá começar a ser capitalizado em 8 bilhões ainda este ano, e mais 16 no ano seguinte, sem que exista nenhuma previsão da fonte de recursos.

Ao ser perguntado se estava otimista ou pessimista com a situação brasileira procurei na memória se nesse longo período havia convivido com uma situação de tanta incerteza. Para facilitar recorri à lista dos 1090 artigos catalogados pela Bibliotecária com o uso do IA que escrevi para o Diário do Comércio entre 1965 e 2018, e chamou-me a atenção um texto de junho de 2015, quando o país se achava em recessão, inflação alta e desemprego elevado, e sem perspectivas de melhoras para o segundo semestre e menos ainda para o ano seguinte. (Apenas para recordar, em dezembro começou o processo de “impeachment”).     

Diante de um cenário de riscos e incertezas como o atual, quando indagado se estava otimista ou pessimista com as perspectivas da economia e, principalmente, qual deveria ser a postura do empresário na gestão de seu negócio. É extremamente difícil dar uma resposta satisfatória para quem tem a   responsabilidade de administrar uma empresa.

Daria agora a mesma resposta, de que o empresário não podia ser pessimista, porque isso o levaria ao imobilismo, e que o empresário é por natureza “um tomador de riscos” e deveria ser um “otimista cauteloso”.

Escrevi então que é preciso estabelecer a diferença entre ser e estar pessimista ou otimista.Ser otimista como o Dr. Pangloss, personagem de Voltaire em seu livro Candide (Cândido), para quem sempre estava “tudo o melhor possível no melhor mundo possível”, por pior que fosse a situação, parece não ser a melhor postura. Mas “ser pessimista porque o mundo é mau” segundo José Saramago, não é também o caso.

Churchill dizia que “ o pessimista vê dificuldade em cada oportunidade, enquanto o otimista vê oportunidade em cada dificuldade”, e Confúcio afirmava que “ o pessimismo torna o homem cauteloso, e o otimismo torna o homem imprudente”.
 
Ainda nessa sequência de reflexões, Roberto Campos afirmava que “ o pessimista é um otimista bem informado”, mas a razão parece estar com Ariano Suassuna, para quem “ o otimista é um tolo, e o pessimista é um chato”, e que devemos ser realistas.

Talvez a melhor conduta para o empresário seja seguir a posição do filosofo comunista italiano Antônio Gramsci, que recomendava “ ser pessimista com a inteligência e otimista com a vontade”, ou “ser pessimista na análise, e otimista na ação”.

Isso significa que o empresário não deve ignorar as análises dos pessimistas, que apontam as dificuldades existentes, mas deve considera-las suas advertências apenas para orientar melhor suas decisões. Por exemplo, os economistas se preocupam porque o PIB brasileiro deve cair entre 1% e 2% neste ano. O empresário, no entanto, não deve se deixar levar pelo pessimismo e pelo imobilismo, mas procurar ver como a empresa deve se posicionar para aproveitar os 98% ou 99% do mercado que sobram, e que representam um PIB de mais de cinco trilhões de Reais.

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