Sabe-se que, atualmente, o maior capital econômico é o controle da informação.
E o antigo jargão já preconizava: “informação é poder”, no sentido de poder político e de poder de persuasão, inclusive sobre as “massas”.
Com certeza, isso é poder “demais”, principalmente se for mal utilizado, com objetivos de prejudicar outrem, escravizar nações ou até destruir a civilização humana.
Onde estarão os “freios e contrapesos” a essa escalada?
Caso a pronta resposta seja a “regulação das redes sociais”, essa expressão é, evidentemente, um eufemismo para “censura prévia” e, mesmo que venha a ser aceita pelo povo ou imposta por um ditador, necessariamente terá que vir associada a um “ministério da verdade”, ou seja, algo (algoritmo?) ou alguém (o dirigente supremo) que crie (e perenize ou altere constantemente) os parâmetros a serem aplicados.
Uma informação “falsa” nem sempre é maldosa. Algumas verdades são rudes e até ofensivas, daí o cautelar preceito de “dourar a pílula”, suavizando a realidade.
Mas, na guerra, extensivo aos frequentes conflitos sociais e até familiares, o célebre Sun Tzu ensinou que o vencedor (quem escreve a história, por sinal) é sempre aquele que engana melhor seus adversários.
Diante disso, convenhamos: o problema atual (fake news) é apenas de volume, que se tornou ensurdecedor, mas não é novidade e nunca vai acabar. É inerente à natureza humana (ou animal, haja vista que os disfarces e dissimulações também ocorrem em outras espécies).
Mas o ditado espanhol avisa: “yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay”, no sentido de que os piores opressores da civilização, ditadores sanguinários e até juízes pervertidos, se incomodam com os que pensam diferente, querem calá-los e, se possível, até assassiná-los.
Embora existam as absolutas, muitas verdades dependem do observador e de seu ponto de vista, dificultando ao extremo o eventual trabalho de um “ministério da verdade” honesto. Malba Tahan caracterizou isso muito bem na parábola “Os Cegos e o Elefante”.
No desespero de uma solução, seria o caso da implantação social de um “Admirável Mundo Novo” (Aldous Huxley), onde não existem fake news, nem maldades, nem ambições e nem mesmo desejos corriqueiros, onde os seres humanos nascem em laboratório, sem pais nem famílias, e o oxigênio em seu cérebro, no momento do nascimento, é dosado para a criação de castas ordeiras e felizes, muito parecidas com a comunidade das abelhas ou das formigas (não há registros de protestos ou insubordinações de formigas ou abelhas entre si ou contra seus governantes).
Qual seria, então, a atitude, o comportamento social adequado, moderado, mas resolutivo, do cidadão atualmente indignado e revoltado (mais do que nunca d’antes no país de Abrantes)?
Felizmente, nossa “elasticidade” social aos desmandos e até a crimes lesa-pátria, no país tropical da cerveja e do carnaval (não mais da picanha), é muito grande.
Mas gera e inculca um desconfortável sentimento de conivência ou até de involuntária cumplicidade, pois ninguém engana o seu próprio subconsciente, sua força vital.
A solução é “filtrar e multiplicar”.
Filtrar significa aceitar a realidade da enorme profusão das informações, que veio para ficar, e participar ativamente desse processo: analisando todas elas, sejam “true” ou “fake”, tal como o livro sagrado nos sugere deixar coexistirem o joio e o trigo, até o momento da colheita. Podemos, nesse momento, cruzando todas as informações do mesmo gênero, fontes diferentes, eliminar com segurança as que estiverem fora do razoável “desvio-padrão” e chegar à verdade plausível.
E então, colaborando em autêntica “cidadania solidária”, divulgar e multiplicar essa verdade conquistada, para todos os demais, utilizando o mesmo meio (as redes sociais), sem medo ou constrangimento.
Se todos ou muitos praticarem isso, a sociedade como um todo relaxará, “baixando a guarda” contra esse ambiente depressivo e maldoso que nos cerca atualmente, e os artífices dessas maldades acabarão percebendo que o mundo mudou e os pérfidos objetivos não estarão mais ao seu alcance.
Sem precisarmos de censura prévia e do ministério da verdade.
O mínimo é filtrar e multiplicar. Por José Crespo

Ex-deputado estadual na ALESP
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