“Até os mais fortes se cansam. Até os que curam, às vezes, sangram.”
A Psicologia brasileira sofreu uma perda irreparável com a partida repentina de Bruno Soalheiro, uma referência vital para a construção da saúde mental no país.
Sua luz, que guiou tantas pessoas em busca de compreensão e acolhimento, apagou-se de forma inesperada, deixando um vazio profundo.
A morte de Bruno não é apenas a perda de um profissional brilhante, mas de um pilar fundamental na Psicologia moderna brasileira.
A saúde mental está em luto, e o legado de sua dedicação e humanismo ecoa como uma ausência que só o tempo poderá tentar compreender.
Na última semana, um silêncio rasgou o peito de toda uma categoria.
Bruno Soalheiro partiu e, com ele, uma parte da esperança de quem ainda acreditava que era possível mudar tudo pelo afeto, pela escuta, pela coragem de ser humano.
Ele não era apenas psicólogo.
Era voz. Movimento. Brilho.
Um farol em meio às sombras da saúde mental negligenciada.
Estava na disputa pela presidência do Conselho Federal de Psicologia, não por vaidade, mas por missão.
Ele não queria um cargo. Queria um novo tempo.
Lutava por uma Psicologia ética, acessível, viva.
Lutava por nós.
E agora, estamos aqui, tentando entender o impensável:
Como aceitar que justamente a nossa referência o rosto que nos inspirava a resistir sucumbiu ao que passou anos combatendo?
Como aceitar que aquele que nos encorajava a não desistir se foi pelas mãos do próprio sofrimento?
Talvez nunca haja resposta.
Mas há uma verdade cruel que se escancara:
Bruno era humano.
E os humanos também quebram.
Sim, até quem cuida.
Psicólogos, psicanalistas, psiquiatras, médicos, terapeutas, assistentes sociais, cuidadores, bombeiros, profissionais do SAMU, socorristas…
Todos enfrentando as dores dos outros enquanto tentam sobreviver às suas.
Quantos de nós choram escondidos entre um atendimento e outro?
Quantos escutam o sofrimento alheio enquanto mal conseguem dormir à noite?
Quantos veem a morte de perto, todos os dias, e mesmo assim são cobrados por equilíbrio emocional e frieza técnica?
Quantos estão à beira do colapso, mas continuam sorrindo para não decepcionar?
Vivemos num sistema que exige performance, equilíbrio, resiliência.
Mas não nos oferece espaço seguro para dizer: “eu não estou bem.”
Nos ensinaram a ser fortes, como se isso nos impedisse de sentir.
Como se o cuidado com o outro fosse incompatível com o cuidado de si.
E a pergunta que cala na garganta de tantos é:
Quantos mais vão precisar partir para que isso seja levado a sério?
Não é fraqueza adoecer.
Não é vergonha precisar de ajuda.
É humano. É urgente. É necessário.
Bruno representava o que muitos de nós ainda estamos tentando ser:
Profissionais que não se escondem atrás de títulos, mas que olham nos olhos.
Que não falam de saúde mental apenas em datas específicas ou em posts bonitos, mas que vivem isso todos os dias.
Sua partida precisa ser um marco.
Não uma tragédia esquecida.
Mas um grito.
Que mais nenhum profissional da saúde, da escuta ou do resgate se sinta obrigado a vestir uma armadura todos os dias.
Que nenhum de nós precise viver o silêncio que rasga o peito aquele que grita por dentro e ninguém ouve até que reste apenas uma lembrança.
Que possamos honrar o nome de Bruno sendo mais presentes, mais humanos, mais atentos uns aos outros.
Talvez este tenha sido o texto mais difícil e doloroso que escrevi como profissional.
Mas que ele sirva como semente.
Para que nenhuma dor seja ignorada.
Para que o legado de Bruno não seja apenas lembrado, mas continuado.
A dor não é fraqueza.
Ela é o que grita quando o silêncio já não cabe.
Que o sofrimento dele nos ensine a escutar o nosso.
Que a saudade dele nos mova a cuidar de quem cuida.
Bruno fará falta.
Mas que a sua ausência se transforme em presença coletiva.
Em redes de apoio.
Em espaços de verdade.
Em coragem para ser vulnerável sem vergonha, sem medo, sem solidão.
Se você estiver enfrentando um momento difícil, não silencie sua dor.
Falar ainda é o caminho. Procurar ajuda é um ato de coragem, não de fraqueza.
Você importa. Sua vida importa.