Com a popularidade de Lula traduzindo o que tem sido o governo dele neste terceiro mandato – sem dúvida, o pior dos três -, é interessante, mas também mórbido, já imaginar como serão as campanhas eleitorais no ano que vem, em especial a que envolve a presidência da República.
Na semana em que o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, logo quem!, chamou o ex-juiz Sérgio Moro de “chefe de quadrilha” na suspeitíssima Jovem Pan, não faltam presságios de nitroglicerina do que vem por aí.
Dá até para arriscar dizer, mais uma vez, que o eleitor brasileiro será levado a uma discussão bem rasa, que se mantém na superfície na maior parte do tempo, ou que cai no folclore de aventureiros, alguns deles jocosamente eleitos como “símbolos” do voto de protesto.
A democracia representativa está em xeque, embora o voto de protesto tenha de ser observado como uma manifestação legítima, mas igualmente preocupante. A cultura do “quanto pior, melhor” ou o advento do “já que todos são tão iguais…” explica. E “a gente” vai elegendo políticos que juram transparência e atuam com obscura truculência para miná-la veladamente.
Lula diz que “Deus sabia” que ele levaria água ao nordeste. Aqui em São Paulo, sabe-se lá como!, uma campanha publicitária partidária aponta o “êxito” do secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, que é candidato a tudo que aparecer na frente dele. Se a economia do governo Lula vai mal, apesar do agro desmatador ter “levantado” o PIB no primeiro trimestre, a segurança pública é um retrato do desastre em São Paulo porque a polícia – e esse não é um problema unicamente paulista – não encontrou uma forma de coibir os assaltos por ladrões fantasiados de entregadores com suas motos ou bicicletas. Vale para São Paulo, para outras capitais, para cidades do interior, para um país inteiro que se vê atônito diante de um crime que parece não ter antídoto.
Três assuntos devem surgir no horizonte eleitoral com mais densidade: emprego/renda, segurança pública e saúde. O debate, seguramente, não vai chegar à importância do saneamento básico, do planejamento familiar e de ensinar aos mais novos como ter compromissos ambientais que contenham o aquecimento global, aquilo que está ao alcance de cada um de nós. Ninguém vai cobrar escola pública de qualidade, políticas públicas de reeducação alimentar…
Num mundo de laços frágeis e de constante transformação, estaremos entre a Sociedade do Espetáculo e a Modernidade Líquida. E tenderemos, como time, a evaporar diante dos holofotes com a sina de desperdiçar oportunidades. O Brasil tem se tornado uma coleção de fracassos. Certa vez, perguntei a uma amiga da minha filha que parecia bem desinformada para a idade dela se ela e os pais viam, mesmo que ocasionalmente, o Jornal Nacional ou o Jornal da Band… E ela, solenemente, me goleou. “O que é isso, Tio?”