Começa a ganhar velocidade a campanha para eleição do próximo prefeito da nossa devastada São Paulo. A cidade “está visivelmente malcuidada. Árvores e sinais de trânsito sucumbem aos primeiros pingos de chuva. Ruas mal iluminadas e mal pavimentadas sujeitam os cidadãos a riscos de toda ordem. As deficiências do transporte público atazanam a vida de milhões de pessoas que não querem nada além de sair para trabalhar ou se divertir e chegar em casa com tranquilidade”.
A síntese perfeita da situação é encontrada no editorial Ideologia não tapa buraco, do Estadão, na edição de hoje, 25/1, pág. A10. Como chegamos à caótica realidade em que vivemos, na maior cidade da América do Sul? A resposta é simples: São Paulo, já foi bem melhor, mais limpa, mais segura, mais elegante. Como hoje se encontra é resultado de péssimas escolhas, para prefeitos e vereadores.
Francisco Prestes Maia, natural de Amparo, onde nasceu em 1º/5/1896, era engenheiro formado pela Escola Politécnica. No espaço de um artigo é impossível lhe descrever as realizações em dois mandatos como prefeito. O primeiro entre 1938 e 1945, durante a ditadura Getúlio Vargas, indicado pelo Governador Adhemar de Barros. O segundo, de 1961 a 1965, eleito diretamente com o apoio do governador Carvalho Pinto. Faleceu em 26/4/1965, sendo sucedido pelo brigadeiro Faria Lima.
Foi o responsável pelo Plano das Avenidas, compreendendo as Avenidas 9 de Julho, Vinte e Três de Maio, e Radial Norte, hoje Avenida Prestes Maia, baseado em estudos do engenheiro João Florence de Ulhôa Cintra. Urbanizou o Vale do Anhangabaú, construiu o Estádio do Pacaembu – com majestoso pórtico de entrada e magnífica concha acústica -, o Viaduto Jacareí, a Ponte das Bandeiras, o Túnel da Avenida 9 de Julho, alargou a Rua Xavier de Toledo, as Avenidas Liberdade e Vieira de Carvalho, a Ponte do Piqueri, o Viaduto Pacheco Chaves, a Ponte Eusébio Matoso. Planejou a Companhia Municipal de Transportes Coletivos (CMTC), criada na gestão do prefeito Abrão Ribeiro (1945-1947), destruída por más administrações, dezenas de greves políticas e milhares de reclamações trabalhistas.
Será necessário alentado livro para relatar a vida e as obras de Prestes Maia, executadas sem superfaturamentos e com o pouco dinheiro de que dispunha o erário municipal. Foi talvez o único que viu a cidade como conjunto urbano complexo, cujo futuro se condicionava a planejamentos corretos, a curto e a longo prazos. Aqueles que o conheceram o descreviam como homem simples, de hábitos austeros, incorruptível, rigoroso na aplicação de dinheiro público. Afirma-se que controlava a quantidade de cimento, de aço, de pregos, de vigas, ou de mármore, utilizada em obras executadas pelo Município.
De algum tempo para cá a situação se inverteu. A cidade tem sido dirigida e legislada por corruptos e incapazes. A campanha que se anuncia será polarizada. O populista e demagogo presidente Lula, apoia Guilherme Boulos, cujo currículo se resume à liderança do MST – Movimento dos Sem-Teto. Para o deputado do PSOL, não ter moradia própria, ou alugada, é requisito suficiente para a invasão de imóveis alheios, públicos ou privados. O prefeito Ricardo Nunes tem como folha de serviços ter sido eleito vereador, com reduzida quantidade de votos de moradores do seu bairro. Tábata Amaral é jovem e ambiciosa pré-candidata, a tarefas que exigem experiência, humildade e maturidade.
No dia 6 de outubro teremos as eleições municipais (Constituição, art. 29, II). O colégio integrado por 8.886.326 milhões de eleitores, escolherá o prefeito e 55 vereadores. Entregar-lhes-á o comando do município com orçamento de R$ 111 bi, para o período compreendido entre 2025 e 2028. As escolhas serão feitas segundo o comando de populistas e demagogos, ou o eleitorado – superior à população de muitos países – escolherá com inteligência e liberdade?
Temos assistido eleições com votos alienados, dados de favor, comprados, vendidos por cabo eleitoral ou pelo pastor, em troca de promessas de emprego ou de favorecimento ilícito. São votos irracionais, que desmerecem as liberdades democráticas e arruínam qualquer projeto de país, estado ou município.
Prestes Maia foi excelente prefeito. O seu legado é imperecível. Rogo a Deus que inspire o eleitor diante da urna eletrônica. Como está, São Paulo não deve e não pode continuar. O futuro das próximas gerações depende do acerto ou de erros cometidos no passado.
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Almir Pazzianotto Pinto – Advogado. Foi Ministro do Trabalho e presidente do Tribunal Superior do Trabalho. Autor de “A Falsa República”.