“Não sabendo que era impossível, foi lá e fez” Essa provocativa frase do poeta Jean Cocteau suscita, pelo menos, duas inferências: a primeira diz respeito à relatividade do termo “impossível”; a segunda, uma consequência benéfica da ignorância. Pensemos a respeito! Se alguém foi lá e fez, é porque não era impossível.
Por outro lado, se, ao não tomar conhecimento da referência existente acerca de alguma realização — supostamente impossível —, alguém conseguiu, temos aí um efeito positivo do desconhecimento, uma situação que ilustraria o dito popular: “às vezes, a ignorância é uma bênção”. Nem sempre, porém, é assim.
Aliás, quase sempre, as consequências de não ter noção da realidade são danosas. É como entrar num jogo sem conhecer as regras. Em uma analogia, imagine se um corredor de rua se preparasse para um circuito de cinco quilômetros e descobrisse, na hora do evento, que na verdade eram dez. É pouco provável que, nessa situação, o desconhecimento o favorecesse.
Em relação aos vestibulares, como se preparar adequadamente sem dominar os objetos de conhecimento e habilidades exigidos, sem conhecer o processo avaliativo, sem considerar a relação candidato/vaga? Em outras palavras, como se preparar adequadamente sem ter consciência do tamanho do desafio? De volta ao exemplo da corrida, engana-se quem pensa que para vencer um desafio desse basta correr muito.
É preciso desenvolver técnica e estratégia. Lembro-me de três treinos básicos, em minha curta experiência nessa modalidade esportiva: o funcional, para fortalecimento dos músculos; o “tiro”, para estímulo à corrida curta e rápida; e o de resistência, com o circuito completo.
Na preparação para o vestibular, o processo é semelhante: o primeiro ocorre nas aulas diariamente; o segundo, em testes e provas, que propiciam a exploração de habilidades e conhecimentos específicos; e o último, com simulados, que, como o nome sugere, submetem o estudante a circunstâncias similares às dos certames. Outro ponto em comum, entre as duas “corridas”, é o fato de o candidato estar ao lado de outros tantos que buscaram se preparar e que querem, tanto quanto ele, a vitória.
Como se vê, é bastante arriscado simplesmente confiar no próprio talento e/ou capacidade e “deixar acontecer”. Invariavelmente, os depoimentos de quem alcançou o pódio relevam virtudes como foco, estratégia, disciplina, resiliência e, especialmente, muita dedicação. A experiência comprova que, quanto mais cedo o estudante desenvolve o autoconhecimento e define seus objetivos, mais eficiente e eficaz se faz a orientação por parte das famílias e dos profissionais envolvidos para o delineamento do itinerário a ser percorrido, bem como o uso das ferramentas que comumente as instituições disponibilizam.
Nesse movimento, todo tempo e toda energia precisam ser muito bem aproveitados. E uma boa rotina de treinos gera confiança, fator fundamental para o bom desempenho nos diversos desafios. Então, jovem, em uma visão menos romântica que a do poeta Jean Cocteau: sabendo que não é impossível, ainda que difícil, vá lá e faça!
Ênio César de Moraes – Professor e coordenador pedagógico do Ensino Médio no Colégio Presbiteriano Mackenzie de Brasília (CPMB)