É fácil perceber a crise no sistema educacional brasileiro. Ainda temos uma educação que os jesuítas trouxeram e catequizaram os índios, ou seja, o professor repete o que leu em livros e os alunos são avaliados por sua capacidade de reproduzir o que os docentes ensinaram que nada mais é do que a reprodução do que está nos livros.
Portanto, vivenciamos uma educação que privilegia tecnicismo, uma educação não reflexiva, uma moral dominante e opressora.
Friedrich Nietzsche (1844-1900), filósofo, escritor e crítico alemão, já denunciava essa situação desde o século XIX!
Por isso, devemos considerar a ciência, mas não em detrimento da arte e da cultura que deveriam ser os elementos principais para a valorização da vida.
A educação atual brasileira é um grande adestramento coletivo, sem nada de originário, segundo uma moral dominante em que o primordial objetivo é reproduzir.
Ou seja, valores éticos e os instintos são reprimidos.
Os jovens são obrigados a decidir cada vez mais cedo o que deverão fazer para o resto de suas vidas baseado em um capitalismo e consumismo, e a preocupação é, exclusivamente, com os meios de subsistência.
Enfim, somos preparados para sermos rebanhos!
E a capacidade de questionar, de argumentar, de querer se diferenciar da moral dominante?
Na atual conjuntura pós-moderna pela qual chegam informações cada dia em maior velocidade, espera-se que o profissional do amanhã tenha não só um conhecimento enciclopédico em sua área e de conhecimentos gerais, como também, seja especializado em alguma área.
E ainda se exige que esse profissional domine as novas ferramentas tecnológicas.
A grande inovação do pensamento do filósofo alemão Nietzsche será defender a reconciliação entre razão e instinto em todos os aspectos da vida, tendo a arte como elemento essencial de valoração da vida.
Há outra questão importante do pensamento nietzschiano que é a forma pela qual a tragédia da vida é enfrentada.
Para ele, a tragédia da vida é inevitável e será dela que o homem deverá se superar, tornando-se o além do homem.
Enfim, a grande questão em Nietzsche será, portanto, não permitir que os maus encontros baixem a potência de agir do homem (ou super-homem).
O homem que consegue se superar é aquele que mesmo diante dos afetos ruins consegue extrair dele uma forma de aumentar, ou ao menos de não fazer baixar a sua potência de agir.
Portanto, devemos lidar com a tragédia, sem ressentimentos, sem decadência ou qualquer outra forma que faça a sua potência de agir baixar.
A questão central do pensamento de filósofo alemão é sobre a verdade!
A vontade de verdade que se encontra na manifestação dos filósofos é denominada por ele de veracidade.
Em Friedrich Nietzsche, a verdade é uma ilusão, é uma enganação que tomamos como valor de verdade e serve para manter nossos corpos adestrados, já que ela é aquilo que trava nossas ações, que pontua nossos julgamentos e que define o que vale a pena ser levado a sério.
Ele propõe que se aprenda a perguntar. Assim, deveríamos aprender a perguntar ao invés de simplesmente responder às perguntas pelas quais sairíamos da posição passiva que até então o homem se encontraria.
A quem cabe valorar a ciência, os conhecimentos, o nosso pensamento?
Segundo Nietzsche, cabe à arte e à filosofia estabelecer os valores da ciência, que nada mais é do que “dominar” o instinto de conhecimento.
Ele não propõe o aniquilamento da ciência, mas dominá-la.
Até que ponto a ciência é quem deve determinar os valores?
Ele não critica o conhecimento em si, mas o instinto de conhecimento sem medida e sem discernimento, o instinto limitado de conhecimento, a verdade a qualquer preço.
E, portanto, Nietzsche, então, demonstra que o conhecimento só é possível junto da moral, pois são intrinsecamente ligados.
Outro importante ponto do pensamento nietzschiano diz respeito à superação do homem pelo “super-homem”.
Em seu prefácio ao Zaratustra, considerada a grande obra de Nietzsche em razão de conter praticamente os principais elementos centrais do seu pensamento, o profeta Zaratustra irá conclamar o homem a se superar.
Portanto, o super-homem é o homem que conseguiu superar o homem, o além do homem.
Quando o homem ultrapassar o homem, ele irá menosprezar aquela pseudo felicidade com base na moralidade, menosprezar a busca desenfreada da verdade pela ciência e menosprezar as virtudes da Igreja.
Preparar as crianças com uma educação nietzschiana é questionar muito os valores morais que as fazem aquiescer sem questionar.
Para o filósofo alemão os modernos métodos de ensino seriam na verdade antinaturais.
Ele diz que é a arte e não a ciência que deve valorizar a vida, percebemos que a arte ocupa um espaço risível se comparado com as demais disciplinas de cunho científico nas escolas.
Para concretizar uma educação de acordo com essa forma, há necessidade de educadores que estejam preparados. A primeira coisa é investir na formação dos educadores para prepará-los no novo paradigma no qual a arte é o grande norte.
É importante ressaltar que a proposta nietzschiana não está propondo a substituição da ciência pela arte, mas nos moldes de seu pensamento, o que se faz necessário é justamente a arte com a ciência, isto é, razão e instinto.
Lamentavelmente, hoje em dia, busca-se apenas uma “profissionalização” em escolas como na universidade, isto é, buscam-se as escolas (universidade) técnicas.
Isso tudo ocorre muito por influência do Estado que faz com que se perceba que ele é o objetivo, é o fim.
E esse Estado na verdade, não é o Estado idealizado pelos contratualistas, mas um Estado que, nos dizeres de Nietzsche, já nasce com sangue nas mãos.
Somente uma nova educação trará uma nova postura para a sociedade, isto é, não ter mais a posição de ser serviente em relação à sociedade e ao Estado.
A filosofia deverá também estar contida de forma transversal em todas as disciplinas, como uma nova forma de pensar os conhecimentos e o mundo em geral.
O culto ao Estado impera desde a modernidade até hoje e deve ser substituído por um culto verdadeiro aos homens, aliás, ao super-homem nietzschiano.
Desafortunadamente, o homem passou com a modernidade, segundo Nietzsche, a ter a sua existência para servir ao Estado. É o Estado superando Deus e passando a ser ele o centro de tudo.
Com isso, se antes a cultura era passada de forma oral, o livro passou a ser o grande disseminador da cultura, e, praticamente, desaparecendo toda contemplação filosófica em prol de servir ao Estado e ao modo moderno de vida. O verdadeiro filósofo desaparecia aos olhos do filósofo alemão, pois a verdade dos modernos não tinha grande importância para ele, isto é, a arte tinha mais importância que a própria verdade.
A educação será, portanto, de suma importância para Nietzsche, e desde o seu “Zaratustra” há uma preocupação com o tema no qual o além do homem possuíra a função de resgatar aqueles homens que se encontram perdidos.
A educação deve se preocupar com o homem livre, criativo e crítico, sendo, então, fundamental que exista um novo modelo de educação, que estimule a arte criativa do homem livre, que estimule a verdadeira filosofia, a leitura e a escrita em detrimento dos valores do Estado, do seu historicismo e da supremacia da ciência.
Essa proposta de educação nietzschiana tem como meta final o desenvolvimento do super-homem, daquele que saiu do camelo, passou pelo leão e se transformou em criança, conforme ensinou Zaratustra.
Para isso, portanto, o homem deverá superar-se para se transformar no super-homem.
Esse homem é o meio caminho que deve ser superado.
A criança e o jovem terão uma grande importância no pensamento nietzschiano, pois eles que mais facilmente conseguirão superar o homem se tornando o super-homem.
Mas não é uma missão fácil, pois há ainda os grilhões históricos de opressão, de uma moral dominante, que ao invés de impulsionar o mundo contemplativo e reflexivo, impera a tendência a não reflexão.
Portanto, há ausência da arte e da verdadeira filosofia na educação!
“Educação é aquilo que a maior parte das pessoas recebe, muitos transmitem e poucos possuem”.
Karl Kraus (1874-1936), dramaturgo, jornalista, ensaísta e poeta austríaco.