Faltam pouco mais de 50 dias para o primeiro turno das eleições municipais e as perspectivas não me parecem melhores do que as oferecidas para os eleitores em anos anteriores.
A sensação predominante que recolho, em conversas com pessoas nos mais diferentes segmentos da população, é de profunda desesperança em relação ao resultado que as urnas vão definir.
Questionados sobre os motivos para tamanho desânimo, respondem diferentemente em função de suas necessidades primárias, nível social, formação cultural, atividade econômica ou capacidade financeira.
Muitos sentem-se lesados e desamparados pelos que governam ou legislam. Afinal, ao longo dos anos e depois de muitas eleições, não conseguiram ver suas vidas mudarem de forma substantiva e suas necessidades permanecem inalteradas ou, mais comumente, são ainda maiores que no passado.
Descreem dos políticos e dos seres humanos em geral, que vêm como egoístas e incapazes de trabalhar ou buscar mudanças que não os favorecem direta e individualmente. Em grande parte, votam não pelo exercício de um direito que custou vidas e muitos anos de lutas e enfrentamentos, mas pela obrigação e buscando evitar dissabores e cobranças impostas pela lei eleitoral.
Outros desacreditam no processo eleitoral como formatado no pais. Afirmam que a existência de dezenas de partidos políticos deixam claro que eles respondem mais aos interesses de grupos ou setores e menos às questões programáticas e ideológicas. Reforçam esta tese a migração de políticos de seus partidos de origem para outros ligados ao poder local ou aos predominantes na esfera estadual ou federal. As janelas partidárias favorecem as trocas e estimulam o toma lá dá cá que todos conhecemos.
Nas grandes cidades e em metrópoles como a cidade de São Paulo o desconhecimento e distanciamento do eleitor e candidatos torna ainda mais desgastante o processo e faz crescer o desinteresse pelo significado e importância do voto.
Para piorar vemos aumentar a participação na disputa eleitoral de indivíduos sem qualquer preparo pessoal, experiência administrativa, vivência política ou compromisso com a coisa pública. Estes valores e qualificações que embasaram candidaturas no passado hoje são substituídos por interesses corporativos, religiosos e, mais recentemente, pelos chamados “influencers” da mídia social.
Os efeitos desta deterioração podem ser vistos e são comprovados pelo empobrecimento da qualidade dos representantes eleitos para os parlamentos e escassez do debate qualificado em questões relevantes para o conjunto dos cidadãos.
Embora o calendário eleitoral esteja ainda no seu início a amostragem obtida nos debates e entrevistas com os candidatos não nos dão muitas esperanças.
Ouso dizer que a rotina se mantém, não obstante tudo o que já aconteceu.
A triste rotina. Por Milton Flávio
Deixe um comentário
Deixe um comentário