Neste planeta foram necessários uns 6.000 anos para a população urbana ultrapassar numericamente a rural. Foi em 2007, há 18 anos. Quem vem para a cidade deixa de produzir batatas, hortaliças, frutas e de criar porcos e galinhas. A ex-família rural amplia e muda seu padrão alimentar na cidade.
Mais urbanização, mais demanda por comida e menos gente para produzir. É assim desde o século passado. Caminho sem volta: o crescimento urbano prossegue e declina a população rural. Cabe ao mundo rural alimentar uma parcela cada vez maior da humanidade, exigente e urbana.
Em 2023, a população da Índia ultrapassou a da China e cresce. Os dois países reúnem 3 bilhões de pessoas. Nos próximos 20 anos, nove países trarão um acréscimo populacional de mais 2 bilhões de pessoas, mesmo se em mais de 150 países as populações declinarão. O mundo urbano precisa de alimentos diversificados, de qualidade, a baixo preço e, se possível, entregues e disponíveis em supermercados próximos às residências.
Desde a Segunda Grande Guerra, a produção agropecuária teve um crescimento superior ao da população mundial, graças à revolução verde e à incorporação de inovações, a industrialização da agricultura e das cadeias de transformação agroalimentares. O preço dos alimentos caiu de forma constante. Isso foi particularmente verdadeiro no Brasil.
A primeira ruptura global desse processo ocorreu em 2019, devido a pandemia da covid-19. Esse vírus surgiu e saiu da China. Causou a morte de 15 milhões de pessoas. Reverteu a tendência de aumento constante na expectativa de vida ao nascer e de vida saudável. O vírus chinês eliminou quase uma década de progresso na expectativa de vida em dois anos. A fome mundial cresceu a um nível superior ao existente antes da pandemia.
Passada a pandemia, a produção de alimentos voltou a crescer. Em 16 de outubro comemora-se o Dia Mundial da Alimentação. Ele foi instituído em 1981, na 20ª Conferência da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), criada em 16 de outubro de 1945.
No Brasil, não tem insegurança ou insuficiência de produção de alimentos para atender a demanda interna, como ocorre com China, Japão, EUA, Coreia do Sul, países árabes e em quase toda a África. É exportador e não importador de alimentos, como foi até a década de 1970. Sua produção agropecuária é suficiente para alimentar mais de seis vezes a população.
Não faltam alimentos, com qualidade, diversidade e a preços competitivos. Faltam sim, para muitos brasileiros, condições de acesso financeiro a todos eles, dada sua situação econômica e social. Desafio complexo a ser estudado e debatido com argumentos e dados e não só com convicções ideológicas ou simplismos.
É difícil saber quantos brasileiros não se alimentam adequadamente por razões econômicas. Para o IBGE, 55% dos brasileiros apresentam excesso de peso (IMC > 25) e 20% são obesos. Diante da crescente laborfobia na população ativa, qual o efeito e a necessidade real, e não de uso político, do assistencialismo, como no programa Bolsa Família, para combater a fome?
O Banco Central demonstrou: a cada mês, milhões de beneficiários do Bolsa Família enviam bilhões de reais às bets via Pix. E 70% deles são chefes de família. O recurso dos programas sociais acaba em casas de apostas e não nos supermercados. O dinheiro das “políticas sociais e afirmativas” vai também a outros ralos. Quer apostar? Ou votar?