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Cadê a bactéria que estava aqui? O plantio direto comeu? – por Evaristo de Miranda

A agricultura brasileira produz recordes de grãos e fibras sem arar a terra. Pouca gente sabe disso aqui e no exterior. Em grande parte das culturas anuais, modernas e mecanizadas, três décadas de plantio direto na palha trouxeram excelentes resultados. E desafios: uso constante de herbicidas, impactos na vida do solo e compactação. O plantio direto, festejado em 23 de outubro, segue se reinventando graças ao protagonismo dos produtores.

São cerca de 40 milhões de hectares de terras cultivadas com diversos sistemas de “plantio direto na palha”, graças ao desenvolvimento de máquinas apropriadas, insumos adequados e a gestão da biologia ou da vida dos solos e das plantas. O plantio direto pode reduzir o uso de fertilizantes químicos ao melhorar as propriedades físicas e biológicas dos solos.

Essa tecnologia tropical evita a gradagem e a aração e representa enorme economia de combustível. A aração é a operação agrícola de maior consumo de diesel. A redução é da ordem de 40% nas emissões de CO2. Arar toma tempo. Com o plantio direto, o agricultor pode dedicar-se a outras atividades.

O plantio direto, ao não revolver o solo, amplia o acúmulo de matéria orgânica. E produz um antiefeito estufa. O gás carbônico da atmosfera fixado pelas plantas na fotossíntese é armazenado, em formas estáveis de ácidos úmidos nos solos, derivados de raízes, restos culturais e na biota.

A compactação, em sistema de plantio direto, é a um tempo indicador e resultado de um cuidado insuficiente com a biologia e a física dos solos. Técnicas de agriculturas regenerativa, sintrópica e orgânica, rotações adequadas de culturas, biocondicionadores e remineralizadores, mix de adubos verdes e outras práticas sustentáveis fortalecem a vida, a diversidade e a atividade biológica nos solos e evitam a compactação.

Práticas do Programa Yamakawa e experiências por todo o país do Grupo Associado de Agricultura Sustentável (GAAS) e da Federação Brasileira do Sistema de Plantio Direto (FEBRAPDP) são exemplos do protagonismo dos produtores na busca de soluções, trabalhando junto com a pesquisa científica.

Esses produtores são observadores, buscam entender as interações entre solo, planta, clima e técnicas culturais. Formulam hipóteses e experimentos. Entendem as mensagens da natureza. Trocam experiências. Buscam novos caminhos e soluções para reduzir a compactação, os herbicidas e criam sistemas sofisticados no controle de pragas e doenças, entre vários temas.

Não arar a terra é apenas um elemento, num sistema complexo, dinâmico e exigente. A manutenção da vida nos solos e das condições físicas adequadas para culturas e pastagens são a base de uma produção rentável e sustentável.

Com tanto sucesso, sempre se reinventando, o sistema de plantio direto na palha bem merece ter seu dia no calendário: 23 de outubro. Ele é um dos motores das transformações do agro. A era da agricultura “química” e “mineral” abre caminho a um uso crescente de insumos biológicos. Um novo tempo, de uma agricultura mais “ecológica” e “natural”, com técnicas modernas. Sem retorno ao Neolítico, perda de desempenho ou exclusões.

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