Tolerância é uma virtude a ser cultuada e incorporada. Este modesto artigo compartilha reflexões sábias do escritor Sidney Silveira, que merecem multiplicação. Infelizmente, corre solta a premissa de que é necessário tolerar tudo e todos para ser uma pessoa “de bem”, conciliadora e “popular”. Mas a vida social é seletiva, e os omissos complacentes endossam os piores caminhos e consequências. Limites são necessários em quase tudo.
O próprio Jesus, que é Deus, ultrapassou os limites do diálogo, tomou o chicote e açoitou os mercadores para fora do local sagrado. Ter e verbalizar conceitos de moral e ética não é sinônimo de intolerância social; ao contrário, é defender valores fundamentais para a saudável convivência e recíproco respeito. Tolerância não deve se mesclar com conivência.
Devemos tolerar, sim, os defeitos de um amigo, para preservar a amizade; do cônjuge, para temperar o casamento; e os nossos próprios defeitos, para que não enlouqueçamos por excesso de escrúpulos. Tolerância não é algo a ser ostentado e deve ser conformada pela prudência. Mas tolerar o vício é permissividade; tolerar a mentira é cumplicidade; tolerar a maldade é covardia; tolerar o erro é estupidez; tolerar a mediocridade é acomodação; tolerar o arbítrio e a tirania é suicídio.
O mundo atual tenta enfiar uma tolerância desmedida goela abaixo de todos, apregoando um regime social de pura anarquia e egoísmo: faço somente o que quero, proibido é somente proibir. Essa dialética é fútil, estéril e a mais hedionda maneira de ser intolerante. Sem balizas de comportamento, sem empatia e sem amor ao próximo, não haverá paz e felicidade individuais e coletivas.