Há uma tradicional definição para o trabalho da engenharia que cai muito bem quando abordamos a preocupação com a sustentabilidade: o engenheiro consegue fazer com apenas um meio o que outro profissional faz com dois. E isso está intrinsecamente ligado à otimização de recursos.
Esta competência tende a ganhar importância, já que é comum termos um cenário em que as demandas são maiores do que os recursos necessários para atendê-las. Tal contexto deve se agravar tanto em termos financeiros quanto naturais.
Associado a isso, temos a complexidade e a multidisciplinaridade de boa parte dos problemas, como é o caso das dificuldades atualmente enfrentadas com a distribuição de energia em grandes metrópoles brasileiras. Como se não bastasse a dificuldade do sistema, que tem a sua carga e demanda oscilando por diversos fatores, as eventuais interrupções também são influenciadas por questões climáticas, queda e presença de árvores, acidentes e até mesmo por intervenções de obras e manutenções de outras concessões.
Um exemplo disso são os apagões que a população de São Paulo tem enfrentado. O problema vivido em novembro do último ano se repetiu no mês de março, quando a região central da capital paulista teve que lidar com inúmeras quedas de energia que, segundo a distribuidora da cidade, Enel, foram causadas tanto pelas temperaturas altas ocorridas na região, quanto por obras ligadas a outras distribuidoras de recursos. Com a demora de cerca de sete dias para religar 100% a energia no local, a população culpou a Enel pela falta de respostas e resoluções eficazes no tempo adequado.
Mas é possível prever problemas que surgem inesperadamente, como as quedas de energia? Como alocar os recursos para mitigá-los e resolvê-los da melhor forma e monitorar esse trabalho? Primeiramente, precisamos entender que vários fatores podem atrasar a correção de instabilidades. Por exemplo, um trajeto de uma equipe de manutenção na madrugada tem um tempo diferente do mesmo trajeto em horário de pico no meio de uma chuva torrencial.
Nesse contexto, saber onde estão os recursos, como eles estão e ter dados para realizar tomadas de decisões assertivas farão a diferença. E o uso de metodologias e tecnologias integradas, baseando-se em recursos digitais, é uma aposta que, apesar de não trazer resultados imediatos, porque demanda um prazo de maturidade para a transformação das rotinas, é uma trajetória eficaz na jornada de inovação.
Um caminho viável para otimizar processos seria unir iniciativas como o BIM a outros recursos tecnológicos, como o GIS (Geographic Information System) e a IA (Inteligência Artificial). Integrar esses recursos rumo a um processo de Transformação Digital possibilitaria ‘fazer mais com menos’, o que significa suportar a demanda dos moradores em relação a um recurso essencial, que é a energia elétrica.
A Enel já deu um primeiro passo adotando o uso do BIM. Em seu relatório de sustentabilidade, a empresa apresenta investimentos visando a otimização de seus recursos e incluiu o BIM (Building Information Modeling) nessa iniciativa como parte do projeto de melhoria sobre os pilares de eficiência, descarbonização, automação, monitoramento e integração. Neste aspecto, evoluir o uso deste recurso é uma opção para ampliar seus efeitos.
A sinergia do BIM, na qual temos a modelagem do ativo construído, base para o gêmeo digital, com o GIS, que contextualiza este ativo no espaço, é fundamental para a estruturação dos dados a serem utilizados por algoritmos de IA e aprendizado de máquina. Ou seja, juntas, essas tecnologias ajudarão nas tomadas de decisão e na produção de informações mais assertivas e eficientes.
O potencial da digitalização é enorme para a otimização de recursos e ainda contribui para o monitoramento de manutenções em tempo real. Essa pode ser a chave para economia financeira de uma concessionária, pois por maior que seja o investimento em tecnologias, esse valor será apenas uma fração do recurso que se precisaria investir para fazer o mesmo sem ela.