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Lições da vergonha do Morumbi – por Roberto Livianu

Articulista afirma que a impunidade prevalece, criando como consequência óbvia a total e absoluta perda de credibilidade da CBF e do futebol brasileiro; na imagem, o Estádio do Morumbi.

A CBF repete o faz-de-conta e mantém árbitros sem punição, expondo a falta de transparência no futebol

No domingo dos 37 anos da Constituição, antes da atual data Fifa, aconteceu no Morumbi a disputa da partida entre São Paulo e Palmeiras, que teve fortes emoções e terminou com o resultado de 3 a 2 para o time visitante pelo Brasileirão. Mas a indesejável estrela do jogo foi o árbitro Ramon Abatti Abel, que integra há 4 anos o quadro da Conmebol/Fifa, o que deveria significar fazer parte do grupo de elite da arbitragem.

Entretanto, é importante lembrar que o mesmo juiz de futebol há 1 ano foi afastado por “deficiência técnica”, ao assinalar penalidade máxima que a crônica esportiva à época foi unânime em concluir que não se deu, em partida disputada pelo mesmo Palmeiras válida pelo Brasileirão de 2024, desta vez contra o Fortaleza.

No exercício de seu poder de gestão e controle fiscalizatório sobre o quadro de arbitragem, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), diante da escandalosa e unânime situação, afastou naquela ocasião o árbitro. Mas nada investigou em relação ao caso –é o padrão CBF. Simbolicamente, para dar uma satisfação ao jornalismo esportivo e à opinião pública, quando o caso é escandaloso e incontroverso, opta-se por esse “faz-de-conta”. É o que se deu, como sempre.

E logo mais ali na frente o árbitro retorna a suas atividades como se nada tivesse acontecido. Algum tipo de exame para verificar sua recapacitação? Jamais se teve notícia a esse respeito, até porque não existe notícia de compromisso com accountability ou de uma política rigorosa de compliance por parte da CBF.

Há algo aqui ou ali não efetivo, só para inglês ver e nada mais. Não se presta contas efetivamente sobre o que se passa atrás daqueles muros intransponíveis. Nunca existiu na gestão da CBF compromisso verdadeiro com a transparência nem com a integridade.

É fato notório, aliás, que dos últimos 7 mandatos, 5 dos ocupantes da presidência compõem o seleto grupo de gente fina, elegante e sincera que foi retirada do poder por corrupção, abuso de poder e assédio, com penas que incluem a cadeia e o banimento perpétuo do futebol.

O último deles, em matéria memorável da revista Piauí, utilizava dinheiro da confederação para custear viagens aéreas em classe executiva e hospedagens em hotéis com múltiplas estrelas. Incluía sua numerosa família e agregados para acompanhar competições. E também custeava os serviços de garotas de programa para convidados da CBF em eventos, em detrimento de projetos relevantes para a evolução do futebol nacional e capacitação da nossa arbitragem, que passou a ser treinada à distância.

Por isso, não chegam a surpreender as deliberações da CBF, diante da escandalosa postura do senhor Ramon Abatti Abel, observada com perplexidade pelo mundo, deixando de expulsar um jogador do Palmeiras em lance acintoso e de assinalar pênalti igualmente acintoso contra o Palmeiras quando o jogo estava 2 a 0. Novamente se beneficia o mesmo time. A vitória ficará para sempre manchada e será sempre lembrada por essas questões da arbitragem.

Em 1º lugar, opta-se, na contramão da transparência, nos 37 anos da Constituição que consagra o princípio da publicidade, sendo o Brasil 1 dos 8 signatários globais do Pacto dos Governos Abertos, pela opacidade, decidindo a CBF em 1º momento pela não divulgação do áudio do VAR, cujo registro exporia à sociedade os bastidores inerentes da aberrante decisão da não marcação do pênalti. Só depois de muita pressão –e mediante autorização da Fifa– houve a divulgação. Parafraseando Platão: vá lá uma criança ter medo do escuro, mas estamos literalmente perdidos quando adultos têm medo da luz.

Em 2º lugar, mesmo reincidente no delito, o senhor Abel, xará do técnico do Palmeiras, foi punido com “afastamento” por 10 dias (sendo 8 deles dentro da Data Fifa). Ou seja, não há punição alguma. A investigação sobre o que pode estar por trás desses comportamentos novamente é inexistente e a impunidade prevalece, criando como consequência óbvia a total e absoluta perda de credibilidade da entidade e do futebol brasileiro.

Alenta-nos a notícia da denúncia dos fatos aqui tratados pela Procuradoria –incluindo a postagem homofóbica de jogador do time vencedor escrachando o rival nas redes sociais– perante o STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), promovendo a responsabilização do árbitro, do jogador e de dirigentes são-paulinos por atitudes antidesportivas.

Mas por que a CBF não descredenciou sumariamente Abel do quadro Conmebol/Fifa diante da grave e escandalosa reincidência? Ao contrário, segundo o portal UOL, o árbitro vinha sendo premiado, sendo o mais escalado do país pela entidade em 2024, apitando 21 jogos, e por isso, o mais remunerado.

Assistimos, hoje em dia, com admiração, às partidas da Champions League porque os times europeus se transformaram em poderosas máquinas galácticas de jogar futebol. Mas, além disso, porque existe seriedade na disputa do esporte naquela competição europeia. Quer na arbitragem, quer na inexistência da “cera voltada para o antijogo”. Aqui, um choque de integridade de gestão e transparência e a implantação de 2 tempos de 30 minutos parando o cronômetro já seria um grande começo.

Leia mais no texto original: (https://www.poder360.com.br/opiniao/licoes-da-vergonha-do-morumbi/)

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