Muitos pacientes chegam aos consultórios com diferentes idades, queixando-se de fraqueza e já em reposição de testosterona prescrita de forma incorreta. Alguns deles, iniciaram terapia sem dosagem prévia de testosterona total e outros com níveis da substância dentro da normalidade. Como orientar estes pacientes sobre possíveis riscos e quando a reposição gera ganho em qualidade de vida?
Primeiramente, níveis de testosterona começam a reduzir em torno dos 40 anos de idade. Recentemente foi publicado o guideline sobre Avaliação e Tratamento de Deficiência de Testosterona pela Associação Americana de Urologia onde fica comprovado que a reposição de testosterona destina-se somente para aqueles com diagnóstico de deficiência, ou seja, para aqueles que possuem dosagens de testosterona total sérica abaixo de 300 ng/dl em duas ocasiões distintas acrescida de um sintoma ou sinal (anemia, rarefação óssea, alteração de libido, disfunção erétil, adinamia, perda de alteração do humor, depressão, queda da auto percepção de perda de qualidade de vida).
Estudos mostram que o diagnóstico de deficiência de testosterona está relacionado a um maior risco cardiovascular. No entanto, não há consenso em literatura de que a reposição de testosterona nos deficientes melhore os desfechos cardiovasculares. O estudo TRAVERSE, também publicado recentemente, mostra que a reposição de testosterona em deficientes com moderado e alto risco cardiovascular não foi inferior em relação a desfechos cardiovasculares comparada ao placebo em um follow-up médio de 21 meses de reposição. No entanto, houve maior índice de fratura, embolia de pulmão, nefrotoxicidade renal. Reposição exógena de testosterona em qualquer paciente produz interrupção de espermatogênese e o indivíduo pode chegar a azoospermia. Bastam três semanas de reposição para queda de 94% da produção de testosterona testicular. Portanto, esta informação é importante para aqueles que pretendem ter filhos.
Obesidade, doença pulmonar crônica, uso crônico de opioides, insuficiência cardíaca, diabetes e HIV são fatores de risco para deficiência de testosterona. Recentemente, a reposição de testosterona em homens com deficiência, sobreviventes de câncer de próstata, também tem sido reavaliada, sendo viável em casos selecionados.
A reposição de testosterona poderá aumentar glóbulos vermelhos levando a policitemia, aumentar eventos prostáticos e aumentar calcificação coronariana. Portanto hemograma, monitoramento de apneia do sono e dosagens de PSA devem ser realizadas com certa rotina durante acompanhamento.