A mediocridade no Poder Público brasileiro tem raízes no descompromisso e na falta de vocação dos seus agentes.
O Poder Público brasileiro é uma escola de ensimesmados onde a mediocridade é regra.
Não há como contemporizar com tamanho descompromisso na Administração Pública nacional. Organizamos um Estado acovardado, dirigido por executivos, legisladores e magistrados desprovidos de qualidades.
Nosso Poder Público é desprovido de méritos. O burocrata tupiniquim é “concursado”, “nomeado” e “eleito”, com base em critérios medíocres de escolhas circunstanciais. Nesse quadro, a impessoalidade serve de apanágio para o descompromisso.
A mediocridade é solidária. A inteligência é livre. Assim, posições costumam ser assumidas metaburocraticamente, com muralhas e labirintos cartoriais, erigidos para impedir qualquer oxigenação dos escaninhos por quem pensa um pouco acima da média da mediocridade mediana.
O ciclo vicioso torna a estreiteza burocrática absolutamente impermeável à sociedade que a sustenta.
O corporativismo e o cartorialismo estimulam o descompromisso do Poder Público com a população à qual deveria servir.
Todo esse descompromisso pavimenta o caminho da mediocridade rumo à entropia – ruína social do Brasil.
Fatos contrastantes
Na Administração Pública brasileira, governantes são impedidos de implementar a governança por organismos controladores sem controle.
Enquanto isso, no mundo real, Corporações empresariais esmagam direitos do consumidor, destroem bacias hidrográficas inteiras, condenam idosos à exclusão dos planos de saúde, cobram juros escorchantes de correntistas miseráveis – sob as bençãos de instituições controladoras, capturadas pelo poder econômico – órgãos públicos que só em tese zelam pela cidadania.
Enquanto a desordem esgarça a segurança jurídica, o poder judiciário afunda no descrédito popular.
O que antes era considerado reserva moral da Nação, encolhe a olhos vistos.
O quadro é patético. Tribunais Superiores contaminados pelo populismo e pelo ativismo judicial, perdem a discrição e a liturgia, para substituí-las pela super-exposição midiática.
Magistrados, em poses olímpicas, esgrimam na mídia principiologismos hipócritas para garantir impunidade a poderosos. Fazem isso com a mesma desfaçatez com que destroem vidas e esperanças de cidadãos, em despachos administrativos monocráticos.
Aliás, em média, produzem-se pouco mais de três mil decisões colegiadas contra mais de cem mil monocráticas, por ano, só no STF…
Benesses imorais, enquanto isso, são autoconcedidas em completo desprezo pelo contribuinte que se empobrece a cada dia . Uma péssima, lenta, cara, arrogante e ineficaz prestação de serviços.
Valores em crise
O desprezo pelos valores que deveriam formar o cidadão, está refletido na folha salarial do nosso paquidérmico funcionalismo público.
Na terra dos doutos doutores, o salário integral do policial, do médico e do professor, não vale o penduricalho do auxílio-moradia do juiz da esquina, do promotor do rincão do fim do mundo ou do fiscal de contas encalhado na curva do rio.
Essa deformidade remunerada se reflete nos valores restantes da nossa economia social.
Entre os cidadãos comuns, rebolar nas redes sociais atrai mais patrocínio que ensinar história na própria rede. Ostentar falcatruas vale mais que trabalhar discreta e honestamente.
O supremacismo rentista, especulativo, deseduca o cidadão e desestimula o ganho por meio do trabalho honesto. A busca pelo lucro fácil inverte valores morais – o mérito pelo trabalho.
O analfabetismo funcional é epidêmico. Convivemos diariamente com imbecis diplomados, incapazes de soletrar o próprio nome. Segundo o Banco Mundial, no passo atual, só daqui 230 anos atingiremos o nível de compreensão intelectual médio dos europeus, norte americanos, sul coreanos e japoneses.
Miséria moral e falta de inteligência
A miséria na educação se estende ao saneamento, à saúde e à segurança pública.
A sociedade reflete a miséria humana que a governa. Por conta dessa miséria, a cidadania morre todo dia.
Exemplo impressionante está na Inteligência de Estado.
Ao contrário de qualquer outro país soberano – o governo brasileiro decidiu abrir concurso público para agentes secretos.
O caso é emblemático de uma Administração vocacionada para a burrice; incapaz de compreender que um serviço de inteligência é constituído por gente recrutada, vocacionada para a espionagem, contraterrorismo e contraespionagem, selecionada após observação metódica por quadros especializados. Algo que ocorre em qualquer nação inteligente.
Porém, isso é tarefa impossível no Brasil. Por aqui, legal é arriscar a soberania para apostar na “impessoalidade” – no provimento desesperado de quadros por concurseiros de plantão.
Mas… o que dizer de um sistema que institui três organismos de controle para cada um de execução?
O quadro da crise
Há três crises crônicas e perenes, que formam a raiz desse descompromisso: a crise de vocação, a crise econômica e a crise de moralidade.
A crise de vocação advém do tratamento desproporcional conferido às atividades vocacionadas em todo o país, a começar pelo desprezo à erudição culta – pela destruição das disciplinas vinculadas à música, às artes, à educação física, à moral e ao civismo, nos currículos escolares.
O desprezo cultural às profissões técnicas é outro vetor de degradação vocacional.
Há certa “condenação moral” do trabalho exercido na juventude. Por outro lado, nutre-se um culto ao academicismo, sem outro propósito senão o carreirismo acadêmico.
O fenômeno dissimula a falta de perspectiva, o medo do mercado e o afunilamento das oportunidades de trabalho.
A concentração econômica gera uma sociedade fortemente estratificada, e a hegemonia do poder financeiro desestimula o trabalho e incentiva a especulação.
O dinheiro ganho sem mérito e sem vocação, apodrece a base moral do sistema produtivo. E a crise moral é o precipício dos sonhos e perspectivas.
Isso patrocina nossa imoral elite econômica.
O descompromisso crônico gera o comportamento cínico das corporações, com exceções que omitem a péssima regra.
É a égide das assimetrias mediocrizantes.
Nessa inflação de ativismos, a supremacia dos ressentidos impera. Nela, todo aquele que discorda é cancelado.
Guerra intestina
No combate duro entre agentes concursados, agentes nomeados e mandatários da soberania popular, o efeito é a paralisia estatal.
O fatiamento litigioso é arrasador. Desestimula pessoas de bem a exercer a governança pública.
O mecanismo de desestímulo e o “controle sem controle” atinge quem “ousa” governar. Como resultado, muitos hesitam em decidir, assinar e executar o que quer que seja.
É a ditadura da caneta*, mascarada pelo manto do controle jurídico e da democracia.
Essa “psicologia estatal da mediocridade” produz curiosa fisiologia.
Como já setenciara Oscar Niemeyer: “a mediocridade ativa é uma merda”.
O filósofo Olavo de Carvalho, a propósito, diagnosticou que “no Brasil, a mediocridade, mais que objeto de adoração, é objeto de culto”.
A regra, assim, é a da inação.
Se todos são precavidos, ninguém deve agir. E a regra dos “precavidos” é clara:
1- Na Administração Pública, quem age, pode errar;
2- quem erra porque agiu, é punido;
3- quem não age, não erra;
4- quem não erra é promovido.
Se a mediocridade promove a judicialização de absolutamente tudo – incluso o livre pensar – quem, honesto e inteligente, ainda ousaria governar?
Conclusão
Para superar a mediocridade, teremos que quebrar a regra da inação, em prol da inteligência.
Haveremos de buscar de uma nova ordem que convenha ao país.
A resposta está, portanto, na ação.
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