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Calar jornalista é ataque à constituição – por Alex Solnik

Já fui demitido várias vezes nos meus 60 anos de Jornalismo. Mas nunca por dizer o que penso. Nem na ditadura.

Ontem, no início do programa Bom Dia 247, o dono da empresa pediu minha opinião sobre a homenagem que o BNDES prestou a Tenório Jr. Eu contei o que sabia sobre o seu trágico desaparecimento. E que me foi contado por Ferreira Gullar, que participou das buscas por Tenório Jr. Contei o que muitos já publicaram. Inclusive a Folha.

Para minha surpresa, fui atacado por ele e pelos participantes do chat. “Você estragou a homenagem ao Tenório Jr.” alegou o patrão. Jogaram pedras de todo lado. Um telespectador me acusou por “nunca ter defendido a Palestina”. O que eu disse é que Tenório Jr. saiu de madrugada do hotel – ou para comprar cigarros ou cocaína. Vinicius falava em cigarros; Ferreira Gullar, cocaína. O fato de usar cocaína é irrelevante. Não diminui o talento de Tenório Jr. nem justifica seu assassinato. E eu deixei isso bem claro. Mas não adianta, algumas pessoas só ouvem o que querem ouvir. Logo a seguir, o dono da empresa me tirou do ar intempestivamente dizendo: “Você volta amanhã. Tchau”. E mandou uma mensagem: “Vamos levar o caso ao compliance”. Algumas horas depois, recebi uma simpática cartinha de uma funcionária de segundo escalão comunicando que o 247 não precisa de meus serviços a partir de hoje. E que meu último salário será o próximo. E fim de papo. Depois de dez anos. E de mais de 2700 artigos escritos. Eu que me vire, aos 76 anos, para ganhar meu pão. Indenização? Nem pensar. Claro, não sou CLT. Calar um jornalista por suas opiniões é um grave ataque à liberdade de expressão e, portanto, à constituição.

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