Home / Crônicas / Quem é o dono daquele carrão? – por Mário Rubial

Quem é o dono daquele carrão? – por Mário Rubial

Na última crônica, falei do meu início na Editora Abril em 1967. Uma história puxa outra e eu lembrei de mais um caso daqueles bons e saudosos tempos.

No recém construído prédio de 8 andares na Marginal Tietê, havia um extensa área para estacionar os automóveis dos funcionários. No portão de acesso, minha vaga número 92 era primeira a ser avistada por todos que lá trabalhavam, incluindo a família Civita, os principais acionistas.

Morava com os queridos tios Ignácio e Irene desde que meu pai faleceu quando tinha 12 anos. Fui criado como filho mais velho junto com meus três primos.

Meu carro de uso regular era um Fusca azul, ano 1962, com todos os amassados e arranhões possíveis.

Meu tio Ignácio, entre outras atividades tinha uma fazenda de café em Ocauçu. E para acesso àquelas plagas, ele usava uma pick-up Rural Willys, própria para os terrenos esburacados e péssimas estradas daqueles tempos. Mas o carro de passeio da família, era um lindo, charmoso e brilhante Chevrolet Impala 1961, branco, com uma faixa lateral vermelha! Impossível não chamar a atenção.

Certo dia,  a pick-up Rural Willys foi para uma oficina mecânica. E meu tio teve um chamado urgente da fazenda. E claro, não havia a menor possibilidade de submeter o Impala àquele lamaçal de Ocauçu. Meu tio propôs uma troca: eu emprestaria o velho Fusca para ele viajar até a fazenda e ficaria com o Impala por 1 semana!

Soltei fogos!

E lá fui eu com o lindo Impala para a Abril.

Estacionei o majestoso carrão na minha vaga e fui para o trabalho na Produção da Gráfica.

Por um problema de espaço, minha mesa ficava de frente, colada à do meu chefe, Francesco Bitetto. Um italiano espalhafatoso mas uma ótima pessoa: generosa, alegre e que se tornou um grande amigo.

Toca o telefone interno, Bitetto atende com o seguinte diálogo:

– Sim, Dr. Richard, claro, Dr. Richard, sem dúvida, Dr. Richard, imediatamente, Dr. Richard. E sai rapidamente da sua mesa em direção ao 7º andar onde ficava a Diretoria, incluindo o Dr. Richard, filho mais novo do fundador Victor Civita. E que não era uma flor de delicadeza.

Poucos minutos depois volta o Bitetto morrendo de rir.

Que foi, pergunto pra lá de curioso?

Relata o Bitetto:

– O Richard entrou no estacionamento e ficou deslumbrado e curioso. De quem era o magnífico Impala logo no começo do estacionamento? Quando soube que era de um tal Mário Rubial e que ganhava pouco mais de um salário mínimo, achou que estava roubando a empresa, levando “bola” de fornecedor…

Esclarecido o problema, de que o carro não era meu, e que mesmo sendo, eu e minha família tínhamos recursos para uma joia como aquela, Bitetto arrematou:

– Além disso Dr. Richard, esse Impala modelo 1961 vale bem menos do que o Gordini “zero” que você usa!

Tomou, papudo?

FRASE DE BOTECO

“Quem te inveja, te acompanha de longe, porque de perto não aguenta o brilho”.
Anônimo

Marcado:

Deixe um Comentário