Quando eu era um adolescente, em Ribeirão Preto, tinha um sonho de entrar na faculdade de medicina e me tornar um médico. Assim pensando, entrei no “Moura Lacerda”, na praça XV, no científico (era assim que se chamava) e fui à luta; aí, voltando a São Paulo fui morar no Largo do Arouche, entrei no “Osvaldo Cruz” e lá havia o científico medicina e o científico engenharia. Optei pelo primeiro. Nem será preciso alongar-me que a insuficiência do vil metal fez-me acordar do sonho; o mundo perdeu um médico e ainda carrego dez tostões de frustração, por isso. Mas hoje, fiquei a me lembrar de algumas coisas, enquanto fazia a caminhada diária. Vá lá que a memória anda me pregando algumas peças e, antecipadamente, peço desculpas por ela.
Vamos ao Aristóteles, que teria dito algo como “todos os corpos celestes no universo possuíam almas, intelectos divinos, que os guiavam ao longo de suas viagens, sendo responsáveis pelo seu movimento”. A ciência física, que estuda os movimentos e suas causas é a Mecânica, que tanto faz o movimento quanto o cessa. Na parte do movimento encontramos a Cinemática, que nos leva à Dinâmica – o movimento em si, e a Estática, as forças se anulam e tudo fica paradão. Colocações minhas, que o Alberto Luiz deve odiar pela possível imprecisão, apenas para dar pálida ideia do que se movimenta e do que não se movimenta.
No mundo, espiritualmente, não há morte. Somos almas, intelectos divinos, que estamos aqui, neste pedaço, chamado terra, ocupando um corpo (que morre) e que nos identifica. Ficamos um tempão na fila pedindo esta oportunidade, para que pudéssemos acertar algumas dívidas com o passado. Quando a conseguimos, passamos por um período de “esquecimento”, para que a nossa estada por aqui seja justa, pois de nada adiantaria saber quem fomos e para que viemos. Assim, vamos, como diria Renato, musicado pelo Almir, tocando em frente. E esta passagem tem que ter algum significado, pois precisamos saldar débitos antigos, além dos atuais, que nos servem na verdadeira caminhada, em busca da perfeição, no infinito; quem sabe, um dia.
Se assim é, cada topada, cada problema, tem a sua razão de ser. Faz parte da dinâmica, de nossa mecânica. É a força que nos impulsiona no sentido de ir para a frente. Caiu, levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima. Alguém está tranquilão, bem de vida, sem nada que o incomode? Pois é: como dizia o caipira, “ceis vê as pinga que nóis toma, mais num vê us tombo que nóis leva”. É fácil olhar para o céu, como a reclamar com Deus, e fazer comparações. Ninguém quer se dar conta de que cada um tem a sua história, a sua caminhada, os seus débitos. Hoje eu sou um velho, estagiando por aqui, lendo e aprendendo, mas já reclamei muito…e, quer saber? Ainda dou as minhas reclamadas nos tombos da vida, imperfeitíssimo que sou.
O que conta, mesmo, na física celeste, é estarmos em constante movimento, buscando subir pela escada, o que não é fácil. Não devemos ficar no modo estático, sem sofrer muito, sem gozar muito, vivendo na penumbra cinzenta que não conhece vitória nem derrota, segundo Theo Roosevelt. A passagem por aqui exige algum sacrifício, tipo sangue, suor e lágrimas, perdoar e ser perdoado, amar e ser amado. Não pare! Encontramos e encontraremos momentos em que tudo parece desabar: faz parte do jogo. Viva o hoje como se não houvesse amanhã e tenha sempre em mente que fora da caridade, não há salvação. Não somou os pontos que deveria? Vai voltar para o fim da fila, implorando outra oportunidade, para saldar os débitos que não saldou. Essa é a física do Pai, a mais justa que existe e lá, sim, todos são iguais perante a Lei.












