Em geral, tudo – ou quase tudo – na vida pode ser analisado sob a metáfora do copo meio cheio, meio vazio. As diferenças entre formas de pensamento também seguem essa máxima. Para algumas pessoas, pensar de maneiras diferentes é prerrogativa para conflitos hostis. Para outras, contudo, a diversidade de ideias é que em geral faz as coisas acontecerem do jeito mais construtivo possível.
Esse é o viés que move o mundo, sobretudo nos dias de hoje, em que os ecossistemas das mais variadas naturezas – familiares, de negócios, governamentais – clamam por pluralidade de opiniões. Quem leva essa tendência para o lado negativo tem um prato cheio – ou meio cheio – para comprar briga, visto que a inflexibilidade pode ser um combustível para desacordos estagnantes. Mas, aqui, neste espaço de reflexão, a proposta é mesmo a de alimentar soluções criativas a partir das divergências.
A questão é que nosso cérebro tende a se aproximar dos que pensam de um jeito igual ao nosso, até por um mecanismo de conforto. Quem se entrega a esse comportamento sem um exercício crítico de predisposição ao acolhimento dos contrários corre o risco de adentrar as plagas do julgamento e da repulsa a tudo o que não está alinhado às próprias convicções.
Tendemos a julgar o outro a partir de nossas crenças. Se deixamos esse julgamento ser imperativo, estrangulando as vias que favorecem o diálogo, estaremos minimizando as chances de atingir pontos de convergência de interesses. As melhores saídas para os problemas não costumam estar nos polos opostos de um universo de possibilidades, e sim em aberturas encontradas no meio do caminho.
O conflito negativo se instaura quando um lado quer convencer o outro de que a sua ideia é a melhor. Essa estratégia de negociação geralmente não é produtiva. Em primeiro lugar, o recomendado é separar a figura do interlocutor do que está sendo discutido. Trocando em miúdos, falo aqui da famosa recomendação de não levar para o pessoal.
É preciso, então, saber distinguir a subjetividade do repertório de vida de cada um da objetividade que é chegar à solução de uma questão – que, no fim das contas, acaba sendo nada mais que gerenciar e conciliar diversas subjetividades no intuito de chegar a um bem comum, que na medida do possível agrade à maioria. Administrar conflitos nessa jornada, aliás, é papel de um líder.
Na busca de consensos entre posturas muitas vezes antagônicas, uma liderança tem de se valer de técnicas de condução para chegar aos resultados desejados. Uma delas é determinar um período da reunião para que os participantes exponham livremente seus pontos de vista sobre determinado tema, mantendo na pauta a partir daí as três ideias principais. É um ótimo recurso para gerar insights e evidenciar para as pessoas que elas estão de fato participando do processo.
Procedimentos como esse ajudam a construir a confiança entre os membros do time e para com o próprio líder. O sentimento coletivo de coesão e propósito facilita entendimentos entre diferentes perfis, os quais também requerem particularidades no trato com suas manifestações.
Para quem expõe seus pensamentos de maneira mais acalorada ou até colérica, por exemplo, sugiro que o interlocutor deixe essa pessoa falar sem combater em um primeiro momento o que diz, uma vez que o conteúdo é “despejado” até como uma forma de desabafo. Após essa acolhida inicial, a resposta às argumentações enérgicas pode tomar o rumo de uma síntese do que foi explanado, a título de confirmação ou esclarecimento, acalmando a outra parte ao deixar claro que ela foi de fato ouvida. Convém ressaltar que elevar o tom de voz raramente é recomendado, porque quem grita em geral quer se impor pela intimidação e não pela solidez dos argumentos.
Também é atributo do bom líder chamar para o jogo aqueles que não se manifestam por timidez ou por se sentirem vulneráveis no contexto. Essas pessoas precisam ser incentivadas a apresentar suas formas de pensar.
O lado mais positivo dos ambientes diversos é mesmo o de encarar antagonismos como fomentadores da criatividade. Nesse sentido, o conflito é necessário, mas dentro dos parâmetros do controle e da plena consciência dos envolvidos sobre até onde vale ceder aos contrapontos dos outros em prol do favorecimento geral. É tênue a fronteira entre sair fortalecido de um encontro entre opostos ou sucumbir às armadilhas que esvaziam a chance de evoluir a partir das diferenças.