A Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas a COP é,
em teoria, um dos mais relevantes fóruns globais sobre o futuro do planeta. Reúne
líderes mundiais, cientistas, ativistas e especialistas para debater soluções contra
a crise climática. O Brasil, detentor da maior floresta tropical do mundo, foi
naturalmente escolhido para sediar a edição de 2025. Mais especificamente, a
cidade de Belém do Pará, no coração da Amazônia, foi anunciada como anfitriã.
Até aí, tudo muito simbólico. Uma escolha que poderia, sim, representar um novo
protagonismo ambiental do país. Na prática, porém, a COP 30 começa a tomar
contornos típicos do folclore administrativo brasileiro, uma mistura de improviso,
inépcia e, como não poderia faltar, suspeitas de corrupção. A já notória escassez
de infraestrutura hoteleira da capital paraense não foi devidamente considerada
nem tampouco suprida. Resultando em uma inflação desenfreada nos preços das
diárias e na inédita requisição de motéis para hospedar participantes do evento
internacional.
Não se trata de uma piada. E se fosse, seria uma daquelas que causariam
desconforto até em comediantes mais ousados. No Brasil, diferentemente do
conceito original norte-americano, onde motel é um hotel de beira de estrada para
motoristas, os estabelecimentos com essa designação assumiram um significado
cultural bem peculiar. São, em grande parte, usados como espaço de encontros
íntimos, com tarifas por hora e ambientação temática. Tornaram-se, com o tempo,
verdadeiros lupanares de conveniência urbana.
A ironia não se perde. Um evento de escala global, destinado a discutir o futuro do
planeta, hospedado em cabines projetadas para paixões fugazes. O que deveria ser
um palco de protagonismo ecológico corre o risco de virar uma pilhéria
internacional.
Mas o problema não se resume à caricatura. Há relatos de superfaturamento,
desorganização logística, e, segundo fontes não oficiais, possíveis desvios de
verba, esse fantasma onipresente que ronda as iniciativas públicas nacionais. O
que deveria ser um evento sustentável começa a parecer apenas mais uma vitrine
da incompetência administrativa, um palco verde pintado com as cores do velho
patrimonialismo tupiniquim.
Evidentemente, o Brasil tem o que mostrar nessa conferência climática. A
Amazônia é, sem dúvida, tema central no debate climático global. Mas eventos
como este exigem mais do que narrativa simbólica, caraterística nos debates
sociais e políticos nacionais, exigem planejamento, seriedade e, sobretudo, gestão
eficiente. Sem isso, o risco é o de transformar intenções nobres em episódios
risíveis. Ou, pior, em escândalos.
Enquanto autoridades seguem buscando soluções em reuniões climatizadas, resta
ao cidadão brasileiro o calor incômodo, de uma vez mais assistir a constatação de
um pesadelo onde uma iniciativa ecológica pode acabar, em um país de gestores
corruptos e despreparados, nos quartos discretos de um motel temático.
Belém ainda tem tempo. A COP ainda pode ser um marco histórico. Mas, para isso,
é preciso sair da política das aparências e agir com o compromisso que o mundo
exige e que os brasileiros merecem.
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