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Abrem-se as cortinas: ele era o espetáculo – por Dinamérico Aguiar

No período em que fui chefe do departamento esportivo da Rádio Bandeirantes, naquela época chamado scratch do rádio, chegava a dar quase 70 por cento de audiência nas transmissões esportivas. Locutores, comentaristas, redatores, repórteres da mais alta qualidade faziam parte da equipe. Integrar esse time era sonho de muitos jovens radialistas em todo o Brasil. A emissora cobria praticamente de tudo, a tal ponto que o Moraes Sarmento vez por outra abria a porta de minha sala meio bravo e reclamava…vai transmitir o que hoje, campeonato de palitinho? O programa dele era à noite e se havia transmissão esportiva ele não ia ao ar.

O grande destaque, entretanto, era o Fiori Gigliotti. Não que ele fosse melhor que os outros, mas sua criatividade e a paciência que ele tinha eram de espantar. Ficava ao dia inteiro lá no Morumbi e recebia pessoalmente a todos os visitantes (que eram inúmeros, principalmente de cidades do interior). Eram caravanas e mais caravanas que chegavam, e o Fiori as recebia a todas, mostrando cada local, cada estúdio, onde a tevê estava sendo instalada e tudo mais. Ao fim de cada escalada pelo prédio, ele vinha para o departamento, o pessoal sentava em volta da mesa e ele, com aquela tranquilidade de sempre, ficava ouvindo, paciente. Alguém falava algo e ele afirmava: “É verdade…”. Mais uns quinze minutos ouvindo e ele dizia: “Não me conte”. Era divertidíssimo ficar ouvindo o Fiori com aquele grupo de pessoas, interessadíssimo em tudo e dizendo: “É verdade…Não me conte”.

Falando em não me conte, já contei que ele tinha o hábito de dizer de onde o jogador tinha vindo daí, nas transmissões, a gente ouvia fulano, o moço de Morungaba ou o moço de Osvaldo Cruz. Quando veio o Garrincha para o Corinthians, ficamos todos esperando a transmissão para que ele falasse o moço de pau grande (cidade onde o Garrincha nasceu). Tudo pronto, abrem-se as cortinas e começa o espetáculo, bola para o Garrincha e o Fiori mandou: “Bola com Garrincha, o moço das pernas tortas“. Quebramos a cara.

Houve uma transmissão esportiva nos Estados Unidos, penso que em Seattle, lá se foi ele com o comentarista Mauro Pinheiro, fone, microfone e uma maletinha (todos levavam para as transmissões um equipamento para ligar a linha). Na hora do jogo, em um campo adaptado, pois os americanos da região nem sabiam o que era futebol, o Fiori percebeu que a linha estava longe do campo, logo na entrada e sem visão de nada. Sem se apavorar, combinou com o Mauro: “Traga as escalações, vá assistir ao jogo e volte sempre que houver um gol e me avise quem marcou”. O jogo era do Santos, nem sei contra quem, e o Fiori narrou os noventa minutos sem ter a menor noção do que se passava em campo. De vez em quando o Mauro vinha e avisava: “Gol de fulano!” E ele criava a jogada e até o é fogo: “Goool!” e tudo que tinha direito. Inesquecível, Fiori Gigliotti.

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