O Brasil inteiro está abalado pelo drama que os moradores do Rio Grande do Sul estão passando neste momento. As chuvas não páram e a situação só piora. Como consequência, todos os setores foram atingidos e estão paralisados. O futebol não é exceção. Grêmio e Internacional (só para citar dois gigantes do futebol brasileiro), não tem, no momento, onde treinar ou onde mandar seus jogos. Em razão disso, pediram à CBF que suspenda os campeonatos organizados por ela, até que a situação se normalize. Motivados pelo sentimento de solidariedade, doze clubes da Série A, do Brasileiro, já se manifestaram a favor da proposta de suspensão total das atividades do futebol do País.
Falta apenas o apoio de mais oito, para que haja unanimidade na proposta feita à CBF. Mas não devemos nos esquecer que ainda há os clubes de menor expressão lá do sul, que disputam as séries B, C e D, e que também não tem locais para treinar ou mandar seus jogos. Acho até que, se a população brasileira fosse consultada neste momento, a grande maioria iria apoiar a ideia. Só que não é assim que a CBF deve pensar. Ela precisa, antes de mais nada, ser extremamente fria e imparcial, para analisar esse problema e, só depois, tomar uma medida definitiva sobre ele. Caso contrário, toda a estrutura do futebol brasileiro poderá ser profundamente prejudicada, com prejuízos tão grandes, que serão necessários três ou quatro anos (ou mais) para que aquela entidade recupere o terreno perdido do esporte que administra.
Vou explicar aqui os motivos do porque estou dizendo isso. O futebol, como se sabe, é uma estrutura profissional que depende de muito dinheiro (milhões de reais) para funcionar bem a cada mês, a cada ano. A começar pela realização dos jogos de cada campeonato ou torneio que já existem no futebol de nosso País.. Todo jogo tem público, que paga ingresso, que proporciona renda, e que, ao final de cada partida, é partilhada entre clubes, Federações e CBF. São centenas de jogos, e milhões arrecadados. Os campeonatos ou torneios mais importantes, são todos transmitidos pelas televisões, que pagam polpuda cota mensal aos clubes pelo direito exclusivo de levar o espetáculo ao ar.
Destes jogos de futebol, participam técnicos, auxiliares, jogadores, árbitros, bandeirinhas, bilheteiros, seguranças, etc. Todos eles recebendo bem pelo seu trabalho. Se toda essa engrenagem parar de funcionar de repente, todo esse dinheiro deixará de entrar nos caixas dos clubes e, quem vive do futebol, deixará ou poderá deixar de receber aquilo que é fundamental para o seu sustento e o de sua família. Ou seja. Parar o futebol profissional, é prejudicar milhares de profissionais que ganham e fazem sua poupança, através dele. Diante desta realidade, seria um “crime” se a CBF suspendesse seus campeonatos em “solidariedade” às vítimas da calamidade pública que tomou conta do sul do Brasil.
Ser solidário e participativo, nesse momento, e tentar ajudar as vítimas com doações, orações e outras manifestações, é muito justo e até necessário. Diria, é humano. Mas paralisar o futebol em todo o País como parte disso, é um erro enorme, muito grave (em minha opinião, pelo menos!). Na verdade, o ideal é que os jogos e campeonatos continuem como estão e que os clubes do sul continuem fora das disputas. Assim que a situação for controlada, que voltem às atividades, mesmo que, provisoriamente, venham a utilizar a estrutura de clubes de Estados próximos, onde a chuva não fez o mesmo estrago. Há ainda a possibilidade de cancelar o rebaixamento dos clubes prejudicados, mantendo-os nas divisões que estão, e ampliando o número de participantes nos campeonatos dos anos seguintes.
Depois, aos poucos, o descenso pode voltar, e os campeonatos voltarão ao número de participantes que a CBF julga ideal. Mas suspender os campeonatos neste momento será uma atitude totalmente negativa, que não resolverá em nada o sofrimento da população daquela região do País, mas fará o futebol profissional do Brasil entrar numa crise sem precedentes. No próximo dia 27, uma comissão representativa da CBF estará reunida com os clubes para definir essa situação. Espero que não se deixem tomar pela emoção de momento, e não suspendam os campeonatos. Se o fizerem, que paguem o preço na sequência.