O episódio Juan Izquierdo, de apenas 27 anos, morto na terça-feira, logo depois de sofrer danos cerebrais – em consequência de uma arritmia cardíaca e de uma parada cardiorrespiratória – expõe a desproteção clínica que, historicamente, vitimiza alguns atletas durante os jogos. Afinal, já havia antecedentes que ameaçavam a carreira – e mais do que isso, a vida precoce do zagueiro do Nacional de Montevidéu, que caiu desacordado no início do recente duelo do São Paulo contra os uruguaios pela Copa Libertadores. Nem o ágil atendimento no Hospital Albert Einstein conseguiu salvá-lo.
Coincidentemente, o caso fatal de Serginho, 30, também aconteceu no Morumbi, há 20 anos, no jogo entre São Paulo e São Caetano. O time do Grande ABC, que ainda resiste na UTI do profissionalismo, tinha conhecimento dos problemas cardiológicos do quarto-zagueiro, segundo a conclusão do inquérito e do processo aberto no alvo do presidente Nairo Ferreira e do médico Paulo Forte. Ambos condenados a penas reduzidas e que não deram em nada, bem no contexto que blinda, sim, diferentes crimes no país da impunidade.
TRISTE RETROSPECTO
Vamos recuar a trágica fita para o dia 7 de março de 1982: Sport 4 x 0 XV de Jaú pelo Campeonato Brasileiro. De repente, o lateral Carlos Alberto Barbosa (Sport), 28, senta no gramado, deita de costas, fica no chão e não resiste a uma parada cardíaca.
Copa das Confederações, 2003. O meia Marc-Vivien Foé, 28, experiente meia de Camarões, sofre um infarto fulminante diante da Colômbia e amplia o trágico ranking no futebol. Ele já havia atuado em conceituadas equipes inglesas e francesas.
Agora, voltamos a janeiro de 2004. O húngaro do Benfica, o Miklos Fehér, 24, sentiu-se mal no estádio do Vitória de Guimarães. Os dois médicos – um de cada lado – tentaram inutilmente reanimar o jovem atacante. A autópsia constatou a miocardiopatia hipertrófica.
Estamos em 2004. Campeonato da Índia. O brasileiro Cristiano Júnior, 25, ex-Vasco, um dos principais destaques da temporada indiana, defende o Dempo SC e leva um golpe no rosto desferido pelo goleiro do Mohun Bagan. Despenca no chão e não reage até que o conduzem ao hospital. No entanto, não evitam o pior.
As implacáveis estatísticas ainda registram as trágicas imagens que provocariam as mortes do ex-Palmeiras Wagner Bacharel (depois de se transferir para o Maringá, levou uma pancada na cabeça numa rodada pelo Campeonato Paranaense); de Antonio Puerta, 22, lateral do espanhol Sevilla; do centroavante Alex Apolinário, 24, ex-Cruzeiro e Athetico Paranaense, do português Alverca. Há múltiplos exemplos que ignoram a segurança pessoal, banalizam a preservação humana e veem estes profissionais como se fossem meros animais de corridas nos hipódromos das fatalidades. Infelizmente, é isso. É o filme real que não podem esconder.