Quando ainda tinha os cabelos ruivos o homem parecia um Duroc Jersey. Agora que embranqueceu parece um Duroc de pelagem branca. Duroc Jersey, para quem não sabe – é claro que tem muita gente que não sabe – é uma raça de porcos.
É um homem duro. O que se vê facilmente pelos olhinhos afundados, pequenos, amassados (parece que não dormiu à noite). E maus.
Não tenho nada contra os Duroc Jerseys cujos olhos se parecem com os do homem insensível do qual estou falando. Tenho, sim, contra o homem horrível, de olhos amassados, olhos de mandar matar opositores, olhos traiçoeiros de gente da KGB. Pertenceu à KGB antes de se meter na política russa e de ser o presidente ditador do infeliz país que sempre esteve longe da liberdade. Primeiro com o czarismo, depois com o comunismo de Lenin e Stalin, agora com ele, Wladimir Putin. Foi tenente coronel da KGB – a polícia secreta da União Soviética, criada em 1954, especializada em espionar, perseguir, torturar, prender e mandar matar quem não concordasse com o regime. Os tempos passaram, a KGB acabou, o regime soviético morreu, mas os métodos continuaram sob Putin.
Vladimir Vladimirovitch Putin foi primeiro ministro ou presidente da Rússia desde 1999 e acaba de se reeleger para mais seis anos de mandato, fazendo e desfazendo na Rússia, inclusive mandando matar inimigos, mesmo que eles não se encontrem em solo russo. Métodos da temida KGB não sairam da sua cabeça. Torturador de chechênios, invasor da Ucrânia, anexador da Criméia (que sempre pertenceu à Ucrânia) raptor de crianças ucranianas. Tem, por todos esses feitos e outros crimes de guerra um mandato de prisão expedido em 2023 pelo Tribunal Penal Internacional. Recentemente o presidente brasileiro, Lula da Silva, afirmou que se Putin viesse ao Brasil ele garantia que o amigo não seria preso. Teve que voltar atrás da declaração exótica, uma vez que o Tribunal Penal Internacional é coisa séria.
Os crimes desse senhor com olhinhos de Duroc Jersey não se limitam a mortes no território que governa, seu braço atinge países europeus. Só para lembrar: seu opositor Alexander Litvinenko foi envenenado, em Londres, com polônio 210, substância que só se consegue em reatores atômicos. Litvinenko, que fugiu da Rússia com a família, escrevia sobre Putin e denunciava seus crimes. A polícia londrina observou, depois de exames laboratoriais que o assassinato só podia ser obra de Putin.
Mortes a tiros de jornalistas e ativistas que se posicionam contra o regime são muitas e ocorrem periodicamente. A tiros ou por envenenamento com novichok. A substância foi usada contra o ativista Alexei Navalny em 2020 na Alemanha. Nalvany foi atendido rapidamente e sobreviveu. Voltou à Rússia e foi preso, condenado a 19 anos de prisão e enviado a uma colônia penal no Ártico, onde faleceu “subitamente”, segundo as autoridades russas, depois de uma caminhada.
A morte de Navalny, aos 47 anos, mexeu comigo, que moro a milhares de quilômetros de distância. E mexeu com milhares de russos corajosos que têm ido ao seu túmulo depositar flores e/ou protestam nas ruas. A polícia do homem de olhinhos de porco prende os que se manifestam. E o ditador de olhinhos cruéis, amassados e afundados na cara se reelegeu novamente. O mundo ocidental duvida da seriedade dessas eleições. China e Coreia do Norte já cumprimentaram o vencedor.
Só mais um adendo: o homem está milionário. Aliás, qual o ditador que não enriquece?
Termino com um emocionado “Viva Navalny!” mais um mártir da história russa.