Como torcedor, alguns anos antes de me formar em jornalismo, assim como o santista neste momento, também vivi o pesadelo de ver meu time rebaixado. Chorei por alguns dias. Passei algumas noites em claro. Mas não demorou muito para que eu passasse a encarar aquele triste episódio como uma fase de aprendizado do meu clube. Que dali em diante a situação só tinha a melhorar (como, de fato, melhorou. E muito!).
Por isso, medindo os santistas com a minha régua, estava achando um pouco exagerado o desânimo que dominou a torcida praiana desde a fatídica derrota para o Fortaleza, que culminou no primeiro rebaixamento da história do Peixe.
Além do desânimo, também estranhei um pouco essa constante tentativa de “fuga” do vexame, como sugerir que a camisa 10 de Pelé ou o tradicional uniforme branco não fossem usados na passagem do clube da Baixada pela Segundona.
Mas, conversando com alguns santistas, comecei a entender um pouco melhor sobre como a torcida do Peixe enxerga o clube do coração.
Diferentemente dos demais torcedores, que amam muito mais o seus clubes do que o próprio futebol – alguns até detestam o esporte bretão -, o santista é diferente. Ele venera o esporte bem jogado tanto quanto ama e apoia o Santos FC. E acredita que, por toda a sua história, a equipe que já teve Pelé precisa sempre ser uma “Escola de Futebol”, jogando para frente, bonito e sem manchas significativas em sua riquíssima história.
E é exatamente este o ponto que sinto que tanto machuca o santista neste momento. O clube, que sempre foi referência mundial no futebol, que teve o melhor jogador de todos os tempos, ganhou manchetes mundiais da pior forma possível neste final de ano. Com o maior vexame da sua história. Com uma mancha terrível que, para eles, jamais será apagada.
Imaginam que, por aí, quando pensarem no Santos, as pessoas lembrarão de Pelé, de Robinho, de Neymar, de Edu, de Coutinho, de Pepe e do… rebaixamento!
Bobagem!
E, de verdade, até acho isso tudo muito bonito. Esse jeito de encarar o futebol. Essa forma única – pelo menos, nunca vi nada igual – de amar o seu time.
Mas eu tenho certo receio do que esse terror à Série B possa acabar causando na equipe da Vila.
Como disse, sou um torcedor com experiência em Série B. E, claro, já vi muitos clubes enormes na segundona. E o que eu sinto é que, para subir sem sustos, o time grande que passa por esse momento precisa, de verdade, se jogar de cabeça na divisão inferior.
Vejo a Série B, para os times grandes, como uma grande piscina em que o objetivo é mergulhar e pegar algo como a chave do retorno à Série A no fundo da mesma. Você pode até tentar se molhar o menos possível nesta tal piscina. Mas, não adianta: para pegar essa chave imaginária, vai precisar mergulhar os pés, o tronco, os braços e, principalmente, a cabeça.
O Cruzeiro, que também até pouco tempo atrás ostentava orgulhosamente o fato de “nunca ter sido rebaixado”, bem que tentou passar pela Série B apenas “molhando os pés” nas turbulentas águas da Segundona. Deu no que deu…
Não que eu ache que seja alguém para dar conselhos para os machucados santistas neste momento. Mas, no português bem claro, como dizem por aí: “Tá no inferno? Abraça o capeta!”.
Será um ano difícil, tendo que tolerar muitas gozações, jogos em gramados terríveis, duelos contra times para lá de modestos… Mas, para voltar, ainda maior, é preciso viver este momento. Não tem como passar por essa experiência terrível sem encará-la nos olhos.