Há pouco mais de um ano perdi a companhia da pessoa mais importante da minha existência; minha mãe. Foi num domingo ensolarado, tenho pra mim, que Deus enfeitou as portas do Céu para recebê-la. Ela já estava com quase 90 anos e na última década vinha enfrentando problemas de saúde. Não me importei em deixar sonhos e projetos profissionais de lado, não viajei, não me ausentei do lado dela um dia sequer. Levá-la a médicos, acompanhá-la em exames clínicos, estar a seu lado nos internamentos nunca foi um peso. Era felicidade pura, um privilégio poder estar ao lado daquela senhora incrível e ver sempre um sorriso doce em seus lábios, mesmo nos momentos mais difíceis.
Durante sua última hospitalização, nunca deixei de ter plena certeza que ela iria se recuperar e voltar para casa, jamais imaginei que uma pessoa de coração tão puro e caridoso pudesse deixar este plano astral. Na minha mente ela era um ser eterno, de imensa luz, que tinha vindo a este mundo para trazer palavras de afeto, compreensão e disseminar os ensinamentos de Deus.
Nós tinhamos uma troca incrível, um encontro de almas gêmeas; dizem que éramos muito parecidos fisionomicamente. No dia anterior de sua partida, estive com ela boa parte da noite. Mas logo cedo recebi o telefonema mais doloroso de minha existência. Não pude chorar direito naquele domingo; tinha que providenciar a documentação para o sepultamento. Confesso que estava totalmente anestesiado. A pessoa que eu mais tinha amado na vida não iria mais me ofertar aquele bom dia que só ela sabia oferecer.
Dias depois me senti totalmente solitário. A casa envolta em silêncio, o vazio deixado pela ausência definiva. Repetidamente, me vinha à mente a preocupação com seu cotidiano, com os horários que ela tinha que tomar os remédios… Vivenciei o luto enxugando lágrimas incessantes tentando curar as feridas abertas, até que um dia comecei a sentir a calma presença de minha mãezinha, Dona Nazaré ao meu lado a todo momento. Hoje me sinto feliz e confortado, pois amei essa mulher com o maior amor do mundo e recebi esse afeto na mesma intensidade. Uma sintonia perfeita.
Agora, depois de muita oração e reflexão, agradeço, porque entendo que Deus tinha me preparado uma linda missão; cuidar de minha mãe, filha única e viúva há muito tempo.
Felizes aqueles que puderem vivenciar o amor em toda sua intensidade e plenitude, o maior do mundo, como no meu caso, que tive a felicidade de receber e doar amor verdadeiro na mesma proporção.
Obrigado mãe por fazer parte da minha vida até hoje.
Jorge Lordello