A participação das mulheres em posições de liderança vem evoluindo discretamente, mas é preciso acelerar. Contar com mais mulheres na liderança promove benefícios para o ambiente, sociedade e mercado de trabalho como um todo.
O filme Antonia: Uma Sinfonia, disponível na Netflix, demonstra o tamanho do desafio e oportunidade, dentro de uma perspectiva histórica. Lançado em 2018, ele é baseado na história real de Antonia Brico que, na Nova York de 1930, tornou-se a primeira mulher a conduzir, com sucesso, uma grande orquestra. Ela ousou seguir o sonho de se tornar uma maestrina, embora ninguém acreditasse ser possível apenas por ser uma mulher.
Embora ela tenha sido muito talentosa, jamais conseguiu ser regente líder de uma orquestra. Por um período, ela conseguiu formar uma orquestra composta somente por mulheres, mas não teve continuidade.
Ainda que a história tenha se passado há 100 anos, tudo é muito real ainda nos dias de hoje – da abdicação de Antonia ao tão difícil equilíbrio da vida pessoal e profissional ao machismo enfrentado por ela. É um retrato verdadeiro dentro das organizações na atualidade, pois somos minoria entre aqueles que tomam decisões.
Segundo o estudo Panorama Mulheres 2023, realizado pelo Talenses Group em parceria com o Insper, a presença de mulheres em cargos de presidência no Brasil alcançou 17% das organizações, de 2019 a 2022. Já nos cargos de vice-presidentes, elas são 23% e como conselheiras, 21%. Em posições de diretoria, são 26%.
Um estudo realizado pela McKinsey & Company, em 2015, “Diversity Matters”, analisou dados de 366 empresas públicas de países e culturas diferentes. O resultado foi que a diversidade de gênero dentro das equipes de liderança gera diversos benefícios, sendo um deles a melhora no desempenho financeiro das organizações. Isso porque as mulheres possuem diversas qualidades que compõem o comportamento de um bom líder, como por exemplo, inteligência emocional, escuta ativa, habilidade de resolução de problemas e resiliência.
Sendo assim, é preciso que mais portas sejam abertas para que o potencial feminino seja explorado e todos possam ganhar com isso. Mas como mudar esse cenário?
Cada vez mais se faz necessário que as empresas desenvolvam e coloquem em prática políticas de abertura para que as mulheres sejam colocadas em destaque. É triste ter que repetir que, em pleno 2024, elas ainda enfrentam grandes disparidades em relação aos homens, sem falar na segregação ocupacional (ou seja: profissões consideradas masculinas e outras femininas – estereótipos que só servem para perpetuar desigualdades). As organizações precisam estar atentas para que as mulheres não se sintam cerceadas por seu gênero, e isso só é possível se elas estiverem representadas nos cargos de liderança.
A sub-representação de mulheres nas empresas resulta em práticas que desconsideram as necessidades e perspectivas femininas, tornando a desarmonia de gênero sistêmica. A mulher pode agregar novas perspectivas e visões, mas para isso, precisa ter voz. E sua voz precisa ter o mesmo peso que as demais vozes masculinas.
Vejo com otimismo as próximas gerações femininas, que estão sendo educadas para exercerem papéis que há alguns anos nem mesmo se cogitava. Todos ganham com isso: as empresas e a sociedade. Em poucos anos, veremos que trazer a diversidade para o contexto só proporciona engrandecimento.
Patrícia Suzuki é Diretora de Gente e Gestão da Catho