Verdadeiramente, não se conhece o outro de forma profunda.
Porém, numa primeira abordagem, parece simples conhecer o outro.
Para a filosofia, essa questão é muito difícil, embora pareça fácil ao comum dos mortais.
É interessante observar que para o estudo filosófico as questões mais elementares são as mais difíceis de solucionar.
A maioria dos pensadores clássicos só conseguiu provar a sua própria existência, ou seja, encerrados nas suas torres de marfim. Existe uma visão pessimista que o homem só pode estar voltado para o seu interior, isto é, ele está só e não pode sequer se comunicar com o outro.
Ou seja, cada ser está isolado, fechado em si mesmo. Essa visão é muito egoísta e nos leva a pensar que o indivíduo nunca procura se interessar pelos outros. É possível encarar de outra forma as relações humanas?Devemos combater a tendência natural de sentir certa antipatia, rejeição, quando conhecemos alguém, isto é, é preciso desenvolver um pequeno impulso, uma sensação favorável em relação ao outro.
Portanto, devemos ver o que o outro tem de único, de insubstituível, pois todos os seres humanos por mais miseráveis que sejam as suas almas e sejam intelectualmente e espiritualmente não desenvolvidos, eles têm originalidade própria que os torna diferentes dos outros.
O homem para existir, primeiramente, toma consciência da sua liberdade, do seu eu profundo. A última fase é pelo “outro”. Infelizmente, para a grande maioria dos homens os outros são indiferentes, somente a hipocrisia faz com que eles finjam que se interessam pelo outro.
Na verdade, por mais que tentamos reconstituir a personalidade do outro por meio de seus gostos, manias, caráter, hábitos e assim por diante, nunca estaremos próximos do seu eu profundo.
Em síntese, se nos referirmos à doutrina sartreana, a única maneira de penetrar no interior de alguém, seria simplesmente pelo olhar que é a forma mais intensa de adentrar o ser interior de outro.
Na realidade, Sartre revelou na sua célebre frase: “O inferno são os outros”, isto é, o conhecimento de alguém está atrelado ao ódio que os seres sentem uns pelos outros.
Enfim, é muito complexo saber qual é a verdadeira natureza do outro.
Somente em circunstâncias graves, raras e excepcionais podemos descobrir.
“Os outros, infelizmente, somos nós.”
Bernanos (1888-1948), Carta de Palma, janeiro de 1945.