Em um mundo cada vez mais consciente da finitude dos recursos disponíveis e dos impactos do consumo desenfreado, repensar o destino de produtos que seriam descartados torna-se crucial para as nossas vidas. Mais do que um ato de responsabilidade ambiental, a prática é uma oportunidade estratégica, com benefícios econômicos e sociais significativos. Avaliando isso, vemos uma ação na mudança de pensamento da indústria e do varejo em investir num modelo de economia circular, e que promova, entre as melhorias, uma redução significativa ao que, hoje, é jogado fora e que poderia estar no prato das pessoas.
O recente Índice de Desperdício de Alimentos 2024, publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, revela que o mundo desperdiça 1 bilhão de refeições todos os dias, enquanto 780 milhões de pessoas passam fome. Diante desse cenário, sabemos da importância em dar um novo rumo a produtos que seriam descartados e, com isso, separei alguns pontos que valem uma avaliação sobre os processos de atitude sustentável para o setor varejista e que são importantes para o mundo e para a vida das pessoas.
Redução do impacto ambiental
De acordo com dados da ONU, são desperdiçados 27 milhões de toneladas de alimento por ano, o equivalente a alimentar 1,26 bilhão de pessoas nesse período. A grande maioria desses produtos estão aptos para o consumo e o processo de recolocação promove um impacto positivo. Como exemplo, se fizermos a recolocação de 5.317 toneladas de produtos, o número é equivalente a 5,7 milhões de refeições recolocadas na mesa dos brasileiros.
Economia de recursos naturais
Utilizando o mesmo exemplo de 5.317 toneladas de produtos que seriam descartados, o seu redirecionamento eficiente impactaria um total de 3.788 toneladas de CO2 que não seriam emitidos na atmosfera. Além disso, essa mesma quantidade impactaria em 7,6 milhões de m³ de água que não seriam utilizados no processo de descarte.
Promoção da economia circular
A recolocação de produtos é uma das ações mais significativas para a economia circular, modelo que visa reduzir o desperdício e aumentar a eficiência do uso de recursos, por meio da geração de renda sustentável. Isso ocorre porque os itens que seriam descartados e geram apenas prejuízos, são convertidos em receita tanto para a indústria e grande varejo, assim como, principalmente, a médios e pequenos varejistas que podem comercializar esses produtos e obterem renda para seus empreendimentos. De acordo com o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), na próxima década, a economia circular deve movimentar cerca de 1 trilhão de dólares.
Promoção da inclusão social
Recolocar os produtos torna-se uma ferramenta que promove a inclusão social. Isso porque, a operação possibilita que pessoas de baixa renda tenham acesso a produtos que de outra forma não poderiam adquirir.
Fortalecimento da comunidade
O processo da economia circular, que tem como base a visão e postura da sociedade em relação ao consumo e à utilização de recursos naturais, também representa a sobrevivência de muitas famílias e a criação de negócios e oportunidades de trabalho em torno de ações como a recolocação de produtos. A sua importância é tanta que um recente Relatório da ONU aponta que esse modelo de economia pode gerar um ganho de US$ 108 bilhões para a economia global até 2050.
Ensino
A recolocação dos produtos aptos ao consumo também colabora para a educação ambiental. Todo o processo como é feito e seus resultados promovem uma conscientização populacional sobre a importância da sustentabilidade, seja pela atenção à produção dos produtos, assim como o consumo consciente que precisa ser feito. Pesquisa da CNI (Confederação Nacional da Indústria) mostra que o número de brasileiros que se preocupam com hábitos sustentáveis sempre ou na maioria das vezes aumentou de 74% para 81%, em 2023 ante 2022.
Ao dar um novo rumo a produtos que seriam descartados, nós podemos construir um futuro mais sustentável, próspero e justo para todos. Repensar, reutilizar e recriar são ações que transformam o descarte em oportunidade, construindo um mundo em que o valor dos recursos se estende para além do seu uso inicial e todos são responsáveis por isso.