Recentemente, dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) Educação, divulgados pelo IBGE, revelaram uma preocupante queda no acesso à educação fundamental no Brasil, evidenciando a urgência de abordagens inovadoras para enfrentar esse desafio. O país não alcançou a meta de ter 95% das crianças e adolescentes de 6 a 14 anos matriculadas no ensino fundamental (1º ao 9º ano) pela primeira vez em oito anos.
O analfabetismo continua sendo uma realidade preocupante no país. A taxa de analfabetos na população brasileira em 2022, segundo dados do IBGE, estava em 5,6%. O Nordeste tinha a taxa mais alta (11,7%) e o Sudeste, a mais baixa (2,9%). Cerca de 9,6 milhões de pessoas com 15 anos ou mais de idade que não sabiam ler e escrever.
Além disso, outro desafio é a taxa de evasão escolar que agrava a situação da Educação no país. Problemas como falta de estrutura adequada, pobreza, violência, são alguns dos fatores que elevam esse dado. A soma dessas problemáticas cria um ciclo de desvantagem em que as crianças e jovens são privados do direito à Educação, consequentemente reduzindo suas oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional.
É neste contexto que as tecnologias sociais (TS’s) emergem como ferramentas promissoras para impulsionar a educação e lidar com questões emergenciais. Essas tecnologias sociais são ferramentas, métodos ou técnicas desenvolvidas para promover o desenvolvimento social. No site do Ministro da Ciências, Tecnologia e inovações há uma explicação bem didática sobre o termo: na Índia do século XX, Mahatma Gandhi – político indiano, fundador da Índia independente – usou a roca de fiar para valorizar as práticas e costumes tradicionais como instrumentos de inclusão social do seu povo, ao proporcionar um ofício de forma sustentável. Esse uso faz com que a roca seja considerada a primeira tecnologia apropriada do mundo.
O conceito de Tecnologia Social tem como finalidade buscar soluções para problemas de renda, trabalho, educação, conhecimento, cultura, alimentação, saúde, habitação, recursos hídricos, saneamento básico, energia, ambiente, igualdade de raça e gênero etc. Para tal, precisam essencialmente ser efetivas, reaplicáveis para promover a inclusão social e a melhoria da qualidade de vida das populações em situação de vulnerabilidade social. O conceito de Tecnologia Social (TS) estabelece quatro dimensões:
- Conhecimento, ciência, tecnologia: quando a TS tem como ponto de partida os problemas sociais;
- Participação, cidadania e democracia: quando a TS enfatiza a cidadania e a participação democrática; adota a metodologia participativa nos processos de trabalho; impulsiona sua disseminação e reaplicação.
- Educação: quando a TS realiza um processo pedagógico por inteiro e se desenvolve num diálogo entre saberes populares e científicos, e é apropriada para as comunidades, que passam a ganhar autonomia;
- Relevância social: quando a TS é eficaz na solução de problemas sociais, tem sustentabilidade ambiental e provoca transformação social.
Sendo assim, a TS se trata de atitudes para promover o bem estar de uma comunidade, que nem sempre tem ligação direta com a tecnologia em si. Essas TSs têm entrado em cena, para oferecer de forma criativa e colaborativa, soluções personalizadas e acessíveis que consideram a realidade dos alunos.
Esse é o propósito da Rede Synapse – ONG criada pela iniciativa empreendedora de professores alfabetizadores que desenvolveram uma metodologia focada no conceito de TS para alfabetização e na Educação Infantil, considerando o contexto, a realidade e a vivência de cada aluno, principalmente em municípios mais negligenciados do país – professores são protagonistas do ensino e desenvolvem ferramentas e soluções adaptadas às necessidades específicas dos estudantes, chamadas Metodologia Synapse.
Essa metodologia da rede Synapse também permite ao professor um melhor planejamento das rotinas e a possibilidade de construir recursos didáticos, ferramentas e soluções adaptadas às necessidades específicas dos estudantes.
Esses recursos podem ser desde a construção de um jogo de baralho com personagens conhecidos dos alunos para tratar do tema racismo ou elaboração de cenários feitos com materiais recicláveis para contação de história, sem limites para criatividade de quem está à frente do processo, ajudam a promover um aprendizado mais eficaz e inclusivo.
Tudo criado por professores que passam por uma capacitação da Rede Synapse para entender e aplicar essa metodologia em sala de aula. A missão de capacitar mais de 2.000 professores da rede pública em 38 municípios brasileiros de 6 estados do país (SE, MA, CE, MG, PB e PA), a partir dessa metodologia, que considera a realidade local dos alunos ao invés de assumir uma realidade única e improvável do país, é um benefício que se desdobra em uma formação mais justa, mais criativa e mais ágil, gerando impacto positivo a mais de 41.700 alunos da rede pública de ensino.
Essa metodologia proposta pela Rede Synapse também estabelece metas ambiciosas para combater o analfabetismo, a partir de estratégias inovadoras para alcançar esses objetivos. Além disso, mostra como é possível desenvolver tecnologias sociais em prol da alfabetização.
Esse conceito, cria mais conexão dos alunos com a escola, porque considera a vivência, o entorno e a realidade dos alunos, o que se desdobra em uma formação mais justa, mais criativa e mais ágil, gerando impacto cada vez mais positivo. Essa nova forma de ensinar pode se multiplicar por todo o país, estimular a criação de políticas públicas que apoiem e impulsionam o ensino desde a infância de cada brasileiro, seja ele de qualquer região do país.
Reconhecer as disparidades regionais no analfabetismo e na evasão escolar, concentrando esforços nas regiões mais afetadas é um início para o processo de transformação.
Essa inovação alimenta um valor muito forte para a Educação de forma geral: trazer a comunidade escolar para o processo. O método da Rede Synapse motiva a participação da família na construção e no desenvolvimento de atividades em parceria com a escola, que considera a realidade de pais e responsáveis, em grande parte, também analfabetos, mas que assume um compromisso com a educação de seu filho.
Por fim, a expansão do acesso à educação de qualidade emerge como uma necessidade crucial para alcançar as metas de escolarização estabelecidas pelo PNE. Investir em tecnologias sociais e abordagens inovadoras é essencial para reduzir as disparidades educacionais e garantir um futuro mais promissor para as crianças e os adolescentes do Brasil, e ainda trabalha a felicidade do profissional de educação como agente da transformação.