Todos nos perguntamos, a cada dia ou pelo menos uma vez: por que estamos aqui, qual o sentido da vida ?
A resposta é mais fácil para os que reconhecem a existência de uma alma religiosa ou mística, convergindo para a certeza de que a vida é uma oportunidade que Deus ou a Consciência Cósmica nos dá, para crescermos em amor ao próximo, a partir de nós mesmos na direção de todos os demais humanos e de toda a criação, animada e inanimada.
Mas os que (ainda) não a reconhecem, também precisam enfrentar a sucessão dos dias e noites e a luta pela sobrevivência, no que sempre dependem do ambiente.
Nessa saga, quase todos percebem a conveniência de encontrar um caminho que leve e mantenha a paz e o bem-estar.
Mas dificuldades e obstáculos surgem e pipocam constantemente, testando a nossa força de vontade e muitas vezes turvando nossa visão; nesses momentos é fundamental termos uma bússola, um norte, um ideal.
Um bom ideal tem que ser algo difícil de ser atingido, mas possível.
Como sobreviver e ser feliz neste mundo? Essa tarefa é árdua, pois depende também de todos os que nos cercam, cada um com diferentes graus de evolução e determinação.
Existem três alternativas.
A primeira é considerar que o mundo é mau ou defeituoso na origem, e a única solução é destruí-lo e recomeçá-lo. Esse sentimento, recentemente conotado como “woke”, é o mesmo que já levou a tantas revoluções sangrentas, por exemplo a revolução francesa. Os responsáveis por um governo ruim são apontados, derrubados e até guilhotinados, mas em pouco tempo os algozes sofrem o mesmo processo (Robespierre foi também guilhotinado, e tantos outros, antes e depois, buscando esse mundo melhor).
Outro exemplo foi a revolução russa e a imposição do comunismo: outro massacre de pessoas em busca de algo melhor, que fracassou.
Destruir para reconstruir em cima das cinzas, não resolve; mudam somente os métodos.
A segunda alternativa é considerar que este mundo é mau, defeituoso e que isso não tem qualquer solução; portanto, se quisermos ser felizes, o único jeito é sairmos dele.
Alguns se suicidam, mas a maioria dos que aderem a esse pensamento, segue em direção às drogas e psicotrópicos. Possivelmente, enquanto estiverem sob a ação deles, encontram paz e bem-estar, mas isso fatalmente acaba e o retorno é cada vez mais chocante e degradante.
Fugir do mundo “mau”, além de não resolver o problema, na verdade é uma forma de covardia.
A terceira alternativa seguramente é a melhor: o mundo realmente é mau, por várias razões, e é impossível a uma pessoa e em uma vida “consertá-lo”, pois é algo grande demais e complexo demais. Mas se o fracionarmos e cada um de nós conseguir melhorar o seu “pequeno mundo” – o que passa a ser tarefa plausível – então nessa caminhada de uma vida e em companhia de outros que pensem assim, encontraremos sim a paz e o bem-estar. E o sentido, a motivação da vida.
O que seria esse “pequeno” mundo que podemos melhorar?
A princípio, conhecermos melhor o nosso “eu interior”. Depois, conseguirmos fazer e manter uma boa e harmoniosa família, entre pais, filhos e irmãos. Em seguida, construirmos boas e saudáveis relações de amor e respeito com nossos vizinhos, colegas de escola e colegas de trabalho. E por “último”, nos associarmos com todos os demais, célula por célula, para criarmos e mantermos uma comunidade local de resultados e benefícios coletivos.
Nessa empreitada, não importará quantos estarão ao nosso lado e nem quando chegaremos ao ideal: a paz e o bem-estar serão plenos desde o primeiro momento.
Tem sentido? Basta começar.
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José Crespo foi deputado estadual na ALESP por três legislaturas seguidas e atualmente é presidente do ICPP – Instituto de Cidadania e Políticas Públicas.