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O títere chinês – por Foch Simão

A conjuntura geopolítica contemporânea é marcada por choques de interesses e
redefinições de alianças estratégicas. Nesse tabuleiro, o Brasil do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva parece se mover de forma vacilante, ora proclamando uma
soberania altiva, ora evidenciando uma clara submissão a interesses externos,
sobretudo aos da República Popular da China.

O episódio recente que lança luz sobre essa contradição foi a reunião, cercada de
sigilo, entre Celso Amorim, conselheiro de assuntos internacionais da Presidência,
e o chanceler chinês Wang Yi. Este encontro ocorreu imediatamente após o
discurso de Lula na tribuna da Organização das Nações Unidas, em 23 de
setembro, e antes mesmo da resposta ao convite oficial feito pelo presidente norte
americano Donald Trump. Tal inversão de prioridades não é fortuita, ela revela o eixo
gravitacional da política externa brasileira, cada vez mais orientada para Pequim.

Enquanto o Brasil posterga um diálogo fundamental com Washington, que poderia
atenuar os efeitos das novas barreiras comerciais impostas contra a economia
brasileira, o Planalto anuncia a visita de Lula a Cuba, reforçando uma retórica
antiquada de alinhamento com regimes autocráticos. O gesto simbólico não é
inocente, reforça a ideia de uma coalizão “sul-sul” instrumentalizada por Pequim,
cujo objetivo central é fragilizar a presença norte-americana no continente.

Os dados econômicos escancaram a nossa sino-dependência; a China já responde
por cerca de 35% das exportações brasileiras, principalmente soja, minério de ferro
e petróleo, configurando uma relação assimétrica, de fornecedor de commodities
frente a uma potência industrial e tecnológica. Ao mesmo tempo, os investimentos
chineses em infraestrutura e energia no Brasil ultrapassam US$ 70 bilhões na última
década, consolidando uma presença que vai muito além da balança comercial. O
Brasil, nesse contexto, se arrisca a transformar-se em mero satélite do
expansionismo chinês.

A estratégia de Pequim não é inédita. A chamada “diplomacia da armadilha da
dívida”, aplicada em países africanos como Angola, Etiópia e Zâmbia, já mostrou
seus efeitos, investimentos chineses em infraestrutura, financiados por crédito
fácil, transformaram-se em dependência crônica, com Estados inteiros entregando
ativos estratégicos (portos, minas, estradas) em troca da incapacidade de honrar
compromissos. A mesma lógica foi aplicada no Sri Lanka, onde o porto de
Hambantota foi cedido à China por 99 anos após a incapacidade de pagamento de
empréstimos bilionários.

O Brasil, ao alinhar-se sem freios à potência asiática, corre o risco de repetir o
padrão. A retórica de “parceria estratégica” já esconde sinais de dependência,
concessões de energia elétrica sob controle chinês, participação em setores
críticos como telecomunicações (Huawei e 5G), além da presença crescente em
infraestrutura logística, inclusive portuária.

Na década de 1970, durante a Guerra Fria, o Brasil conseguiu navegar com maior
autonomia, negociava com os Estados Unidos sem se afastar da Europa Ocidental
e, ao mesmo tempo, buscava abrir relações com o Oriente Médio e a África,
mantendo certa margem de manobra. Hoje, ao contrário, o governo brasileiro
parece se alinhar de forma preferencial a um único polo, repetindo a lógica de
satelização que Pequim já impôs em outros continentes.

A retórica de “multipolaridade” propagada por Brasília parece, assim, encobrir uma
realidade mais dura, a de que a política externa nacional não atua com plena
autonomia, mas dança conforme a música ditada por Pequim. O Brasil, em vez de
buscar um equilíbrio pragmático entre as grandes potências, adota uma posição
que beira a vassalagem ideológica, revestida de discursos de independência que
soam cada vez mais vazios.

Diante desse cenário, a grande pergunta permanece: trata-se de soberania
nacional ou de uma submissão mascarada aos anseios sinóicos? A resposta,
infelizmente, parece pender para a segunda hipótese.

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