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A vida não é curta. É a nossa presença que tem sido pequena – por Bruna Gayoso

Posso te falar com verdade?

A vida não é um sopro que passa rápido demais.

A vida acontece todos os dias, nos pequenos gestos que repetimos sem pensar, no jeito como levantamos da cama, no primeiro pensamento que nos atravessa pela manhã, no que sentimos e fingimos não sentir, no que adiamos porque “não é o momento”.

E, sem perceber, vamos endurecendo por dentro.

Vamos sobrevivendo em vez de viver.

A sobrevivência é sutil.

Ela começa quando você se convence de que está tudo bem seguir no automático, repetir padrões, aguentar o que te pesa.

A gente se acostuma a fazer dívidas emocionais, guardar lembranças que doem, colecionar mágoas tão pequenas que parecem inofensivas até virarem montanhas silenciosas.

E um dia, quando a vida já correu demais, entregamos flores a quem não pode mais recebê-las.

Flores que poderiam ter sido presença, palavra, afeto, gesto.

Mas ficou pra depois.

E depois, muitas vezes, não existe.

Existe outra verdade que poucos têm coragem de encarar:

Tem gente vivendo ao lado de pessoas que adoecem a alma e fingindo que isso é normal.

A vida já pede força demais.

Não faz sentido dividi-la com quem pesa, drena, suga, cala ou diminui.

A convivência com pessoas amargas, carrancudas, agressivas ou emocionalmente indisponíveis corrói por dentro, devora energia, desgasta a saúde mental e apaga a nossa luz aos poucos.

Relacionamentos podem ser abrigo.

Podem ser lugar de descanso, de silêncio confortável, de cuidado natural, de presença que não exige explicação.

Mas também podem ser fonte de exaustão psíquica, de ansiedade crônica, de insegurança emocional, de dor que se repete sem nome.

A psicologia mostra isso todos os dias, e a clínica confirma:

Conviver com quem te respeita, te escuta e te ilumina é fator de proteção.

Conviver com quem te desconsidera, te diminui ou te usa é fator de risco.

E no meio de tudo isso, vem a parte que dói, mas liberta:

Sair do vitimismo é necessário.

Não para culpar a si mesmo, mas para recuperar o próprio eixo.

Para lembrar que você não nasceu para ficar paralisado pelo medo, pela opinião dos outros, pela expectativa alheia.

A vida não muda quando você deseja; muda quando você se move.

Sai da zona de conforto.

Se mexe.

Vai viver.

Faz o que você adia há anos por insegurança.

Se o seu sonho é viajar, experimentar algo novo, mudar de cidade, iniciar algo que te chama, vá.

O julgamento dos outros vai existir de qualquer jeito.

A diferença é que, vivendo ou não vivendo, o tempo continua passando.

E o tempo, esse sim, não está esperando você criar coragem.

A morte é o sopro.

A vida, não.

A vida é convite.

Convite diário, silencioso, insistente e profundamente generoso.

E aqui entra algo essencial que muita gente ignora:

A saúde mental não se perde de uma vez só. Ela se perde aos poucos.

É no excesso.

No acúmulo.

Na falta de pausa.

Na falta de presença.

Na repetição de padrões que ferem.

Na convivência com pessoas que adoecem.

Na dificuldade de dizer “chega”.

Na ausência de escolhas conscientes.

A neuropsicologia mostra que o cérebro entra em modo de proteção quando vivemos no automático. Nesse modo, não criamos, não sentimos plenamente, não pensamos com clareza.

O piloto automático economiza energia, mas cobra caro:

tira vitalidade, reduz alegria, distorce a percepção emocional e nos deixa reativos, cansados, desconectados de nós mesmos.

Viver exige consciência.

Exige presença.

Exige coragem para olhar para dentro e admitir o que está doendo.

Exige romper com ciclos que já não fazem sentido.

Exige escolher, todos os dias, algo que te mantenha vivo por dentro.

A vida não é sobre atravessar os dias.

A vida se expande quando somos inteiros dentro deles, quando estamos presentes no que sentimos, no que queremos e em quem escolhemos ter ao lado.

E se você sente que está vivendo no automático, desconectado de si, repetindo histórias que não consegue compreender, saiba que isso não é falha.

É sinal.

Sinal de que algo dentro de você está pedindo cuidado.

Sinal de que a sua mente está pedindo espaço.

Sinal de que a sua alma está pedindo presença.

A pergunta que fica, e que talvez você evite, é simples e imensa:

O que você está esperando para começar a viver de verdade?

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