Você já sentiu que dorme, mas acorda cansado?
Que cumpre todas as tarefas do dia e, ainda assim, carrega uma sensação persistente de esgotamento?
Esse cansaço não é falta de força de vontade, nem sinal de fragilidade pessoal. Ele é o retrato de uma época. Vivemos sob um novo imperativo silencioso: ser produtivo o tempo todo. Não basta trabalhar; é preciso otimizar, inovar, estar sempre disponível, sempre atualizado, sempre em movimento.
O mundo moderno nos impôs um novo imperativo: Seja produtivo. Não basta trabalhar; é preciso otimizar, inovar, estar “sempre online” e, acima de tudo, superar-se. No entanto, sob essa fachada de otimismo incessante, esconde-se uma crise de saúde pública. O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han cunhou o termo “Sociedade do Cansaço” para descrever essa realidade, onde a pressão por performance nos levou a um estado de esgotamento crônico. Não é um cansaço que exige sono, mas uma exaustão da alma, que se manifesta em novas patologias.
O aumento exponencial de casos de Burnout e ansiedade no trabalho reflete a precisão desse diagnóstico. No Brasil, o número de afastamentos por transtornos mentais duplicou em apenas uma década, atingindo a marca de 440 mil em 2024, um recorde histórico. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que a depressão e a ansiedade causam a perda de US$ 1 trilhão na economia mundial a cada ano. Essa é a conta silenciosa que estamos pagando pela cultura da produtividade tóxica.
É vital que compreendamos a raiz desse fenômeno, pois ele exige mais do que uma simples folga; exige uma transformação na maneira como vivemos e nos relacionamos com nosso próprio ritmo biológico.
Do “você deve” ao “eu posso”: A tirania da performance
Han argumenta que a nossa sociedade migrou de um modelo “disciplinar” (como o descrito por Foucault, baseado em proibições externas e na lógica do “Você deve”) para um modelo de “desempenho”. Neste novo sistema, a coerção não vem mais de um capataz externo, mas de uma voz internalizada: “Eu posso” e “Eu devo me superar”.
Essa é a violência da positividade. Somos bombardeados por narrativas de sucesso infinito, otimismo obrigatório e a ilusão de que somos totalmente responsáveis por nosso destino. O indivíduo, livre das amarras externas, torna-se o seu próprio explorador e carrasco. A produtividade tóxica prospera nessa cultura, onde o valor pessoal é medido pela quantidade de tarefas realizadas. Deixar de fazer refeições, recusar convites ou ignorar o exercício físico em nome do sucesso são sinais de que a ambição saudável cruzou o limite para o território prejudicial.
As doenças neuronais: O colapso interno
O excesso de positividade e a ausência do “não” na sociedade de desempenho levam às “doenças neuronais”. Ao contrário das doenças infecciosas da era disciplinar (que vinham do outro), o colapso neuronal é auto-infligido, resultante de uma auto-exploração violenta.
- Síndrome de Burnout (Esgotamento): O colapso do sujeito de desempenho que atingiu seu limite de “poder fazer”.
- Depressão: Uma patologia que surge do sentimento de não ser capaz de atender ao imperativo de desempenho.
- Transtornos de Ansiedade e TDAH: Manifestações da hiperatividade e da sobrecarga de estímulos em um ambiente que nunca permite o foco no não-fazer.
Os dados confirmam que não estamos lidando com casos isolados. Além dos 440 mil afastamentos no Brasil por transtornos mentais, o estresse elevado já é uma marca de nossa população. E o que é ainda mais preocupante: 55% dos colaboradores sentem medo de tirar dias de folga para cuidar da saúde mental, reforçando o tabu de que o esgotamento é uma falha individual e não um problema sistêmico.
Uma visão da medicina chinesa
A cobrança incessante da sociedade do desempenho gera um excesso de atividade (Yang) que consome os fluidos nutritivos (Yin), levando ao Fogo do Coração (hiperatividade). Quando o Fogo se eleva, a ansiedade se manifesta, o sono é interrompido e a capacidade de foco e discernimento é prejudicada. Em termos práticos: o rosto denuncia o que a agenda tenta esconder. Dores orofaciais, bruxismo e a cefaleia tensional, são frequentemente o grito somático do corpo que tenta racionalizar o esgotamento.
A sabedoria milenar chinesa ensina sobre a importância do repouso estratégico, como a pausa de meio-dia (Zi Wu Jiao), que protege o espírito da dispersão e evita que o Calor (ansiedade) consuma o Yin (nossa essência). O segredo do bem-estar não está em extinguir o fogo da vida, mas em canalizar seu fluxo para uma expressão ordenada e vital.
O antídoto: O retorno à contemplação e ao ritmo próprio
O verdadeiro antídoto para a Sociedade do Cansaço é, paradoxalmente, a capacidade de parar. Byung-Chul Han aponta a urgência de resgatar a vida contemplativa, o ócio no seu sentido mais nobre: não como preguiça, mas como pausa consciente, reflexiva e restauradora, e o respeito ao ritmo lento, próprio da vida humana. O cansaço patológico nos isola, fragmenta e nos afasta de nós mesmos; o descanso profundo, aquele que não tem função produtiva, nos reconecta ao corpo, ao mundo e ao sentido de estar vivos.
Nesse caminho de reequilíbrio, as terapias integrativas ocupam um lugar fundamental. A Acupuntura, em especial, atua diretamente sobre o sistema nervoso e sobre o eixo estresse–ansiedade, favorecendo a regulação do Coração e a reorganização do fluxo energético. Evidências científicas já demonstram sua eficácia e segurança no tratamento do Transtorno de Ansiedade Generalizada, uma das expressões mais claras das chamadas “doenças neuronais” do nosso tempo.
Cuidar de si, portanto, deixa de ser um gesto individualista e passa a ser um ato de resistência silenciosa frente à cultura da auto-exploração. É renegociar limites, devolver valor à pausa e buscar, de forma consciente, os recursos que sustentam uma vida com mais serenidade.
Antes de seguir para a próxima tarefa, experimente parar por alguns instantes. Fique em quietude. Respire. Observe. Não para corrigir, produzir ou melhorar nada; apenas para estar. Sentir. E permitir que o que não é essencial, ao menos por agora, possa ser deixado de lado.
Se você sente que o cansaço da performance está afetando sua saúde, gerando dores orofaciais, bruxismo, ansiedade ou esgotamento físico, este é o momento de priorizar seu bem-estar. A saúde e o bem-estar holístico não são apenas sobre o que você faz, mas sobre o que você permite que pare.
Conheça mais sobre como a Acupuntura e a Medicina Chinesa podem ajudar a reequilibrar seu corpo e mente.












