A fuga espetacular de dois detentos do presídio federal de segurança máxima de Mossoró, no Rio Grande do Norte, virou a grande notícia dos últimos dias. A caçada aos fugitivos deve ter seu fim nos próximos dias, quem sabe nas próximas horas, ou até mesmo quando você ler esse texto já ; tenha terminado.
O que interessa, na verdade, é o fato em si e seus desdobramentos políticos, que pouco tem a ver com a legítima preocupação com o nosso sistema de segurança pública. Por se tratar da primeira fuga de um presídio feder al desde a sua criação em 2006, ainda no primeiro mandato do presidente Lula, a notícia não para de reverberar na imprensa e já virou conversa de botequim.
E aí mora o perigo. Quantas e quantas fugas já não aconteceram no sistema prisional brasileiro, muitas delas com cenas dignas de filmes de ação? Essas fugas sempre viram assunto nacional, mas pouco acrescentam para o verdadeiro debate sobre o estado atual da segurança pública no país.
Uma operação da Polícia Militar de São Paulo que ocorre na Baixada Santista já havia deixado o saldo de 26 mortos até a sexta-feira, 16 de fevereiro. A ação policial é tão novelesca quanto a fuga dos dois prisioneiros de Mossoró, porém muito mais cruel. No entanto, a naturalização da morte anestesia análises mais complexas e incensa a tese de que “bandido bom é bandido morto”, tão ao gosto da extrema-direita.
Lembro do filme “Fuga de Alcatraz”, clássico de 1979 estrelado por Clint Eastwood no papel de um condenado que não vê a hora de cair fora daquele presídio de segurança máxima, onde impera a violência e do qual nunca ninguém havia escapado. E quem havia tentado, foi recapturado ou morreu afogado já que a prisão de Alcatraz, conhecida como “A Rocha”, fora construída numa ilha.
No caso de Mossoró, o presídio fica numa área rural e a fuga n&ati lde;o foi mais do que um senso de oportunidade, o que, aliás, é critério básico para ser criminoso. Talvez naquela madrugada de quarta-feira de cinzas, a dupla nem pensasse que seria tão fácil sair do presídio, como certamente também não pensaram que seria mais difícil ainda permanecerem livres com a inevitável caçada que se seguiria numa região na qual não tem qualquer familiaridade.
Mas, a primeira fuga de um presídio de segurança máxima do país virou assunto nacional sem que ninguém tenha se perguntado até agora o que ocorria antes de se ter esse tipo de sistema prisional. Não haviam fugas ou exatamente por elas ocorrerem é que se pensou na criação de prisões de segurança máxima?
A política de segurança máxima não é coisa para amador e muito menos para quem só trabalha com o fígado. E aqui fica a dica para a nossa imprensa: quantos condenados passaram pelas cinco prisões de segurança máxima de 2006 até hoje? Quantos escaparam? Justifica a fuga? Não. Mas também a situação do sistema prisional brasileiro, especialmente em alguns estados, não é exemplo a ser seguido.
Marco Pivaé jornalista e apresentador do programa Brasil Latino, na Rádio USP FM 93,7.