Hoje quero falar sobre o que o poeta gaúcho Mário Quintana chamou de “um amor que nunca morre”, a amizade.
Na crônica da vida, no mosaico das diferenças do dia a dia, dos antagonismos e dos contrastes, saber viver o presente é um desafio, talvez uma dádiva (por que não?), para todos os dias.
Meu querido amigo André Russo, publicitário, jornalista, professor universitário, encerrava, em 20 de junho de 2021, o “cumprimento” de sua missão. Pandemia, Covid, e tudo aquilo que vocês já sabem… Mais que isso, tudo que vocês sentiram. Três anos se foram… Mil e noventa e cinco dias, vinte e seis mil horas…
Quando a gente (re)lembra o assunto, um aluno levanta a mão e, com os olhos marejados, conta que a mãe também “virou estatística”. E outro fala do pai, do padrinho, do irmão mais novo, de amigos, amigas, parentes, conhecidos…
A amizade, prossegue Mário Quintana, “quando é sincera, o esquecimento é impossível. (…) A felicidade não está no fim da jornada, e sim em cada curva do caminho que percorremos para encontrá-la. A gente tropeça sempre nas pedras pequenas, porque as grandes a gente logo enxerga”.
Falhei, e falhei muito, ao não ter dito ao André uma centena de “obrigados” por tudo que ele representou na nossa caminhada de 38 anos.
A crônica do amigo nada reativo, nem visceral, sempre sereno, generoso e lúcido chegava a me afrontar, trazia uma perplexidade que ele sabia como ninguém despertar e, quase sempre, cheia de inconformismo. Como pode ser assim? Errei, mais uma vez, ao ter sido duro em momentos em que ele, mais do que a minha impressão e sinceridade, só esperava compreensão e acolhimento. Nossa crônica é página de uma amizade que também lembra Guimarães Rosa, “viver é rasgar-se e remendar-se”.
É com carinho, com respeito e com gratidão que lembro do André. Amigo, afinal de contas, é a luz que não deixa a vida escurecer, preconizava Mário Quintana. Para além do obrigado e da saudade do amigo que colocou Mário Quintana e Guimarães Rosa para conversar no tabuleiro da minha vida, mais uma certeza, um aprendizado: o obrigado e o carinho precisam ser vividos quando eles são sentidos… E falados. A gente pode não ter a chance de dizer tudo isso, no dia seguinte, porque protelamos o que era inadiável: falar sobre amor.