Temos que considerar que a arte é mais do que estética. É uma lente poderosa que nos permite enxergar o mundo com profundidade e compreender a nós mesmos com honestidade. Nos tempos que estamos passando no momento, com toda essa aceleração tecnológica e pelas crises existenciais, a arte continua permanecendo como um dos poucos espaços onde o humano se revela por inteiro — com suas contradições, emoções e sonhos.
Desde as pinturas rupestres até as instalações contemporâneas, ela sempre refletiu o contexto em que foi criada. Documenta o tempo, denuncia injustiças, celebra conquistas e propõe reflexões. Ao observar uma obra, não vemos apenas formas e cores — vemos o mundo através dos olhos de quem a criou.
Obras como “Guernica”, de Picasso, ou “Retirantes”, de Portinari, não apenas retratam eventos históricos, mas nos fazem sentir o impacto humano desses acontecimentos. A arte, nesse sentido, é uma forma de jornalismo emocional.
A neurociência tem mostrado que a arte ativa áreas complexas do cérebro ligadas à emoção, à memória e à cognição. Quando criamos ou apreciamos arte, estamos exercitando nossa capacidade de interpretar, imaginar e sentir. Isso nos ajuda a organizar pensamentos, entender sentimentos e até resolver problemas.
A arte também estimula o pensamento simbólico — fundamental para compreendermos conceitos abstratos como justiça, liberdade, amor e morte. Ela nos ensina a lidar com o que não pode ser explicado apenas com palavras.
Criar é um ato de autoconhecimento. Ao escrever um poema, pintar um quadro ou compor uma música, revelamos partes de nós que talvez nem sabíamos que existiam. A arte nos permite explorar medos, desejos, traumas e alegrias de forma segura e transformadora.
Em contextos terapêuticos, ela é usada como ferramenta para tratar ansiedade, depressão e traumas. A arteterapia, por exemplo, ajuda pacientes a expressarem o que sentem sem a necessidade de verbalização direta.
Artistas são, em muitos aspectos, pesquisadores. Eles observam o mundo, formulam hipóteses visuais e testam ideias por meio da criação. A arte contemporânea, em especial, tem se aproximado da ciência, da filosofia e da política para investigar temas complexos como identidade, tecnologia, meio ambiente e desigualdade.
Obras que misturam arte e ciência — como as de Eduardo Kac, que trabalha com biotecnologia — mostram como a criação artística pode ser uma forma de investigação profunda sobre o que significa ser humano.
Vivemos em um mundo saturado de informações. A arte nos ajuda a filtrar, organizar e dar sentido a esse excesso. Ela cria narrativas, propõe metáforas e oferece espaços de pausa e contemplação. Em um mundo que exige produtividade constante, a arte nos convida a desacelerar e refletir.
Ela também nos ajuda a lidar com o caos. Em momentos de crise — como guerras, pandemias ou perdas pessoais — nos oferece consolo, resistência e esperança. Ainda, nos lembra que, mesmo diante do sofrimento, ainda podemos criar beleza.
Incluí-la na educação é fundamental para formar cidadãos críticos, sensíveis e criativos. Desenvolve habilidades como observação, interpretação, expressão e colaboração. Ensina que há múltiplas formas de ver e entender o mundo.
Estudos mostram que crianças que têm acesso à educação artística apresentam melhor desempenho acadêmico, maior autoestima e mais facilidade para resolver conflitos. Ela é sem dúvida alguma uma necessidade pedagógica.
Em última instância, a arte nos ajuda a responder perguntas fundamentais: Quem somos? O que sentimos? O que queremos? Para onde vamos? Ela não oferece respostas prontas, mas nos convida a buscar sentido.
Nos lembra que somos mais do que consumidores, trabalhadores ou usuários de tecnologia. Somos seres sensíveis, criativos e capazes de transformar o mundo com ideias, emoções e gestos.
Em resumo, sim, a arte nos ajuda a entender o mundo e a nós mesmos. Ela é espelho, janela, bússola e ponte. Ela nos revela e nos conecta. Em um tempo marcado pela velocidade e pela superficialidade, a arte permanece como um dos poucos espaços onde podemos ser verdadeiramente humanos.
